Cresce no núcleo duro da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva a ideia de fazer Geraldo Alckmin acumular a vice-presidência com o ministério da Economia – desde que o petista, evidentemente, ganhe as eleições. Um exemplo disso foi o diálogo travado entre Lula e um aliado, há poucos dias, em um voo particular. Perguntado quem seria o nome para comandar a Economia (ou a Fazenda) em seu governo, o candidato do PT apontou para o ex-governador paulista, que estava sentado ao lado.
Essa iniciativa tem como objetivo apaziguar a tensão que existe hoje entre o empresariado. Em suas declarações públicas, Lula ainda não se comprometeu explicitamente com uma política de austeridade fiscal. Pelo contrário: fala muito em projetos sociais, mas não indica de onde é que viria o dinheiro para financiá-los.
A preocupação dos empresários é justa: sem austeridade fiscal, o déficit público pode crescer exponencialmente, criando uma nova espiral inflacionária – especialmente porque temos uma bomba fiscal de efeito retardado para 2023, por conta da chamada PEC Kamikaze. Já vimos esse filme antes e morremos no final: foi durante o governo Dilma Rousseff, quando o tripé econômico foi desprezado e o país mergulhou em um cenário marcado pela estagflação.
Se Alckmin, em caso de vitória petista, for ungido ministro para tocar a economia do país (um caso que seria inédito na história recente do país), boa parte desta desconfiança pode ser desarmada. Afinal, nos quatorze anos em que esteve no Palácio dos Bandeirantes, as contas do estado sempre respeitaram os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Mas isso pode ser uma garantia de que Alckmin não autorizaria gastos que excedessem o teto? Não necessariamente, até pelas demandas que o ex-presidente Lula terá para validar seus compromissos de campanha. Porém, o ex-governador é conhecido por sua capacidade de aparar arestas e por uma lendária paciência (que foi perdida somente em momentos de estresse absoluto, como no episódio de desentendimento com o ex-aliado João Doria) ao conviver com diversas forças políticas. Um exemplo disso é o discurso atual, mais esquerdista que o de sempre, com o propósito de angariar a simpatia de petistas e pessebistas.
Desta forma, o candidato a vice de Lula pode funcionar como uma espécie de Henrique Meirelles – um nome com trânsito no empresariado e sem grandes ligações com o pensamento de esquerda.
O comportamento de Lula no jatinho, ao reagir à pergunta do aliado, mostra a cautela com a qual esse assunto vem sendo tratado. Em tese, se confrontado pela militância mais aguerrida do PT sobre o papel de Alckmin em seu governo, Lula pode dizer que não falou nada e que foi mal interpretado em seu gestual.
Caso essa escolha seja confirmada (repetindo: desde que Lula vença as eleições), haverá resistências por parte da militância tradicional petista. Mas empresários e investidores – especialmente a comunidade financeira internacional – podem desfrutar de uma certa dose de alívio com essa escalação.
No que diz respeito ao processo de privatizações, no entanto, a abordagem do ex-governador já é conhecida: ele é contra desestatizar as principais empresas estatais, como Petrobras e Banco do Brasil. Desde a campanha de 2018, quando vestiu um colete defendendo a manutenção das empresas públicas dentro do guarda-chuva do Estado, sabe-se qual é a posição de Alckmin sobre o tema (e recentemente ele deu uma entrevista reforçando essa posição).
Essa eventual nomeação, no entanto, é bombardeada por alguns assessores lulistas. Eles argumentam que, do ponto de vista ideal, é melhor nomear apenas ministros que possam ser demitidos sem grandes traumas. Ao escolher o próprio vice-presidente (alguém que não pode ser afastado de suas funções, a não ser por impeachment) como ministro, Lula pode ficar em uma saia justa se precisar despachar o ex-governador e tirá-lo da Esplanada.
Estamos, porém, falando de duas personagens que preferem um mau acordo do que uma boa briga. Alckmin e Lula, neste sentido, têm comportamentos semelhantes: os dois se equilibram na corda bamba, às vezes balançam, mas raramente caem e são detonados pelas bases partidárias.