General da reserva, ex-ministro negou que tenente-coronel participasse de reuniões, mas foto mostra o contrário
Durante depoimento à comissão do Congresso que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, o general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Bolsonaro, minimizou seu papel nos eventos que antecederam e sucederam a invasão do Congresso Nacional.
Heleno também desmentiu as informações que constam na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, minimizando sua relevância e presença próximo dos comandantes militares. Cid afirmou que esteve uma reunião de Bolsonaro com comandantes militares quando a hipótese de um golpe de estado foi discutida, em 24 de novembro, logo após Lula vencer o segundo turno das eleições. Heleno, no entanto, sugeriu que Cid não teria como ter participado desse encontro e chamou essa parte de sua delação à Polícia Federal (PF) de “fantasiosa”.
No entanto, o ex-ministro foi contradito por uma foto oficial que Cid aparece junto com o então presidente e os comandantes das Forças Armadas. Publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, a imagem mostra Cid sentado atrás de Bolsonaro e do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
A contradição entre o depoimento de Heleno e a foto levantou suspeitas sobre as declarações do general da reserva. Alguns congressistas acreditam que Heleno possa estar tentando se proteger enquanto também preserva Bolsonaro e Cid e ambos um do outro, já que o pai do delator que deve perder sua carreira também é um general da reserva, Mauro César Lourena Cid, que por sua vez é alvo da PF.
Hipóteses a serem consideradas
O que dá para considerar é que Heleno se mostrou ingênuo, desesperado ou mentiroso
- Heleno mentiu. Por enquanto esta parece a hipótese mais provável, já que a foto é uma prova concreta de que Cid estava participando das reuniões e sua presença como ajudante de ordens do presidente era prevista.
- Heleno não saber que Cid estava nas reuniões é menos provável, já que a foto mostra Cid sentado logo atrás das figuras de maior destaque no encontro, o presidente e o ministro da Defesa.
E como fica Cid nessa história?
- Com a carreira militar destruída e em risco de parar atrás das grades, Mauro Cid pode ter resolvido abrir a boca;
- Cid pode ter comprometido Bolsonaro falsamente para salvar a si e a seu pai, porém tudo o que diz precisará ser comprovado para ter valor jurídico.
O ex-ministro e general da reserva também deixou de responder as seguintes perguntas:
- Estava presente na reunião em que Bolsonaro encomendou um crime ao pseudo-hacker Delgatti?;
- Estava junto quando Bolsonaro conclamou os chefes das Forças Armadas ao golpe?;
- O que aconteceu em 8 de janeiro foi tentativa de golpe ou terrorismo?;
- O que ele acha do Golpe de 1964 e da Ditadura?;
- Sabia das atividades do coronel Brilhante Ustra como torturador durante a Ditadura?;
- Se acredita que os militares devam intervir na democracia brasileira quando lhes for conveniente?
Então onde estaria a verdade? Provavelmente em algum memorando, já que militares pouco fazem sem escrever relatórios depois ou, talvez mais fácil de localizar, em algum grupo de WhatsApp.