Pesquisas são polêmicas desde o dia em que foram criadas. O grau de controvérsia, contudo, cresceu bastante nos últimos tempos, quando inúmeras enquetes erraram feio no Brasil e em outros países. O comportamento dos eleitores mudou fortemente nos últimos tempos e talvez os Institutos de pesquisa ainda não estejam preparados para captar essas mudanças e interpretá-las. De qualquer forma, a pouco menos de dois meses do primeiro turno, as últimas duas pesquisas publicadas são uma ferramenta para tentar analisar o quadro político.
Há uma grande contradição entre as enquetes do Ibope e do DataFolha. Trata-se do grau de influência de Luiz Inácio Lula da Silva na transferência de votos para Fernando Haddad. Segundo o Ibope, 40 % dos eleitores estariam dispostos em votar no nome indicado por Lula – e 60 % não votariam de jeito nenhum. No DataFolha, porém, esse último índice cai para 48 %. Doze pontos percentuais são uma flutuação muito grande e estão fora de qualquer tipo de margem de erro.
Os 60 % apontados pelo Ibope (ou mesmo os 48 % do DataFolha) indicam uma rejeição forte a Lula de uma maneira geral. Ou seja, se 6 entre 10 eleitores não votariam em quem o ex-presidente indicasse, em tese não votariam nele também. Ocorre que, no DataFolha, Lula (que é inelegível por estar preso após ter sido condenado em segunda instância) vence três simulações de segundo turno, contra Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin e Marina Silva. Destes, Bolsonaro é quem melhor consegue enfrentar Lula (52 % contra 32%).
A pergunta é: como Lula consegue ser vitorioso numa pesquisa e ser tão rejeitado em outra? A explicação talvez esteja no grau de nulos/brancos/abstenções. A simulação divulgada leva em consideração apenas os votos válidos. Ou seja, não se sabe o percentual de eleitores que, insatisfeitos com a inclusão de Lula na fase final do pleito, deixariam de votar ou simplesmente votariam nulo ou branco. Se este grupo de descontentes for numeroso, o número total de votos válidos seria menor e Lula sairia vencedor. Discutir este quadro, entretanto, é perda de tempo, uma vez que a candidatura do presidente de honra do PT deverá ser anulada pelas autoridades.
As duas pesquisas convergem em relação aos votos que Haddad amealharia quando seu nome está na cabeça da chapa. Nas duas, ele crava 4 % das intenções de voto. O DataFolha, ainda, investigou um pouco do potencial do virtual candidato do PT à presidência.
Para Haddad passar ao segundo turno, precisa ter uma boa votação no Nordeste, onde o PT é forte, e em São Paulo. Comecemos por São Paulo. A migração de votos da Lula para ele deve ser quase que total. Mas dificilmente Haddad conquistará espaço fora do PT, algo importante para quem quer passar ao segundo turno.
No Nordeste, por exemplo, o instituto perguntou se os eleitores conheciam Haddad. A resposta foi “não” para 51%. E 29 % afirmaram que só “ouviram falar”. Ou seja, o ex-prefeito de São Paulo, é um desconhecido ou praticamente um desconhecido para 80 % dos eleitores. O desafio dele é deixar bem claro na campanha de que ele foi escolhido por Lula para concorrer pelo PT. O que pode parecer uma desvantagem, no entanto, pode ser um sinal de que há espaço para crescer em meio ao eleitorado. O único problema é que a região já tem muitos eleitores de Ciro e de Marina.
Bolsonaro parece ganhar fôlego nas votações de primeiro turno nas duas pesquisas. Mas, pela primeira vez, perde as simulações de segundo turno para três adversários: Marina, Alckmin e Ciro. Contra Haddad, contudo, vence com 38 % a 29 %.
As perguntas que ainda não foram respondidas por estas pesquisas: Qual é o verdadeiro teto da candidatura Bolsonaro? Ainda ninguém sabe. O fato de perder uma simulação de segundo turno para Alckmin mostra que seu nome chegou a um ponto de esgotamento? Cedo ainda para afirmar qualquer coisa neste sentido. Qual o efeito da escolha de Ana Amélia como vice de Alkmin na região sul? Por enquanto, nada. Nos últimos três meses, o maior crescimento de da candidatura de Bolsonaro foi justamente a região sul.
Respostas de 2
Sério Aluisio, que seu argumento é “ou seja, se 6 entre 10 eleitores não votariam em quem o ex-presidente indicasse, em tese não votariam nele também.”? Você já leu algum livro de ciência política? Desde quando a preferência em um candidato, equivale a sua capacidade de transferir voto para outro candidato? A preferência do eleitor ao escolher um candidato é algo individual, e refere-se a escolhas subjetivas que o eleitor faz ao identificar por exemplo no caso de Lula, um líder carismático, aquilo que é descrito na teoria Weberiana. Já a transferência de votos, se trata de outra coisa. Quantos candidatos o eleitor de Lula consideram herdeiros de sua política? Qual a rejeição do candidato substituto? Qual a capacidade de escolha racional que o eleitor faz diante da conjuntura política? E o voto útil?