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Lucho encarou o golpe desarmado – e venceu

“É uma ordem. Você não vai me ouvir?”
“Não”.
Esse curto diálogo foi o centro da quartelada fracassada promovida pelo comandante destituído das forças armadas bolivianas, general Juan José Zúñiga, diante do presidente, Luiz Lucho Arce, a quem pretendia remover do poder pela força na tarde desta quarta-feira (26), no centro da capital, La Paz.

Diante das câmeras da emissora Bolivisión e de dezenas de celulares, o presidente civil fugiu do roteiro do golpismo militar latino-americano, produzindo a Imagem da Semana. Acompanhado de ministros, assessores e alguns seguranças, Lucho Arce encarou o golpista de dedo em riste: “Volte ao seu comando e leve toda a polícia militar [tropa de choque] ao seus quartéis. Neste momento”. A ordem foi proferida na entrada do Palacio Quemado, antiga sede do executivo, sob os olhares de militares amotinados.

Durante todo o tempo a multidão bradava: “Viva a democracia, c***!!”, “Respeite o presidente!!”, “Não se equivoque, general!”, “Fora, golpistas, c***!”, “Isto é uma estupidez”. De colete balístico e protegido por soldados armados, Zúñiga titubeou: “Não pode ser. Não pode ser desprezo, tanto desprezo. Tanta lealdade às forças armadas”. Ele parecia almejar o reconhecimento de quem pretendia derrubar.

“General, não posso perdoá-lo pelo que está fazendo contra o povo boliviano. Se você respeita a posição militar, se afirma ser um bom soldado, retire todas essas forças neste momento. É uma ordem. É uma ordem. Você não vai me ouvir?”, enfatizou. O general se enche de si e solta um “não” – mas era tarde demais. Ao lado dele, soldados olham para o lado. Civis e fardados trocam comentários curtos, como se fosse um comício. O golpe murchava ali e na retaguarda, com os demais generais permanecendo na caserna.

A situação improvável criou um herói instantâneo. Mas tinha tudo para terminar mal. Alguém um pouco mais afoito poderia apertar o gatilho ou lançar uma granada, colocando a Bolívia de volta ao curso tradicional. Desde a independência, em 1825, ocorreram 194 golpes militares, contragolpes e deposições forçadas no país. Um recorde, apesar dos bolivianos jamais terem vencido uma guerra.

Diante do impasse, Arce entrou em rede nacional e foi às redes sociais pedir resistência e apoio. Assim que foi nomeado o novo comandante das forças armadas, José Wilson Sánchez Velásquez, a tropa recebeu ordens de voltar à caserna. Na Praça Murillo, a soldadesca recuava sem cerimônia, indisposta para o confronto.

Na mesma noite Zúñiga foi detido na sede do estado-maior do Exército e apresentado diante das câmeras. Ele deu uma justificativa fantasiosa para seus atos: tudo seria uma armação do próprio presidente Luis Arce, que pretenderia se perpetuar no poder de uma país em crise. Ninguém acreditou. Uma investigação tentará descobrir quem eram seus (poucos) cúmplices. Na quinta (27), o governo alegou ter informações vagas sobre uma tentativa de golpe.

Zúñiga foi detido no início da noite e apresentado à imprensa sem farda, como preso comum

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