Presidente e líder da Câmara entraram em rota de colisão após retirada de R$ 5,6 bilhões das emendas de comissão
Os recentes vetos ao orçamento de 2024, agora em análise na Câmara dos Deputados, lançam uma sombra de incerteza sobre a dinâmica política entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o líder da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Apesar da aliança existente entre Lula e o Centrão, personificado por Lira, é evidente que o presidente da Câmara é um político astuto e pragmático. O deputado compreende a relevância das emendas de comissão como uma fonte crucial de recursos para os parlamentares fazerem política em suas bases eleitorais em ano de eleições municipais. Por isso a decisão de Lula de barrar R$ 5,6 bilhões às emendas de comissão desagrada. Esses recursos podem significar a vitória para muitos parlamentares que até agora emprestam seus votos ao governo.
Lira já deu sinais claros de que não pretende facilitar a votação dos vetos. Ele cogita obstruir a pauta na Câmara. Motivo: os ministérios mais atingidos foram os comandados pelo Centrão. Técnicos do governo dizem que o problema é que esses partidos foram responsáveis pelo maior volume de valores extras nas emendas de comissão, que são controladas pelas lideranças.
Essa postura pode desencadear um impasse entre o governo e o Congresso, comprometendo a aprovação de outros projetos cruciais para a administração.
A relação preexistente entre Lula e Lira já estava marcada por desconfianças e tensões, resultantes, em parte, de seus estilos políticos distintos. Lula não é conhecido por ceder facilmente aos interesses do Congresso, agravando ainda mais a dinâmica entre os dois líderes. Já Lira é conhecido por fazer jogo duro e apelar abertamente ao fisiologismo do toma lá dá cá.
Os vetos orçamentários agora ameaçam intensificar essas dinâmica. Caso Lira consiga obstruir a votação, isso será interpretado como uma derrota para Lula, complicando ainda mais a já frágil relação entre ambos os políticos.
Mas nem todas as portas se fecharam. Lula entregou nesta terça-feira (23) a presidência e metade das doze vice-presidências da Caixa Econômica Federal, cumprindo um acordo político que negociou com Lira. Na prática, os partidos do Centrão passam a deter maioria dos votos na diretoria do banco público – o que não é pouco.
O PT e aliados, que também integram o governo, reagiram ao acordo com protesto silencioso. Há discordância da política de aproximação de Lula com o Centrão, mas evita-se crítica pública já que inexiste alternativa de governabilidade.
No entanto, há receio de que a coabitação no governo tenha consequências práticas no fortalecimento do Centrão nas eleições municipais. Se confirmada nas urnas a previsão de “um tranco da direita”, é provável que o ano termine com novos avanços sobre o governo Lula em espaços de poder hoje controlados pelo PT e base aliada. Nessa perspectiva, a competição pela eleição parlamentar em 2026 ficaria mais difícil do que foi em 2022. A única saída seria a esquerda obter um bom desempenho em capitais e cidades relevantes do interior, principalmente em áreas controladas pelo Centrão – o que é improvável.
O que MONEY REPORT publicou