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Lula põe azeitona na empada de Bolsonaro

Quando convocou seus seguidores pela internet para manifestação no próximo domingo na Avenida Paulista, o ex-presidente Jair Bolsonaro mirou no que viu e acertou naquilo que não tinha visto. Sua ideia era mostrar o tamanho de sua massa de apoiadores e, com isso, pressionar o Supremo Tribunal Federal, que o assola com investigações sobre a tentativa de um golpe de Estado. Nesta semana, porém, ele ganhou um impulso inesperado para bombar seu evento: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escorregou feio quando comparou a ação do governo israelense à atuação dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

A declaração de Lula incendiou o debate no Brasil e provocou muito mais repúdio do que apoio, restrito apenas a alguns bolsões da Esquerda. Mesmo no quadrante petista, entretanto, não houve solidariedade unânime, pois a declaração provocou desconforto em alguns esquerdistas. O caso do senador Jaques Wagner ilustra bem essa situação. Embora tenha ressalvado que Lula estava indignado com os efeitos da guerra por ser um humanista, reconheceu que o presidente “passou do ponto”. “Aquele episódio [Holocausto], que foi a maior barbárie do Século 20, é um episódio único”, disse Wagner.

A opinião pública é pendular e se transforma rapidamente, especialmente nesses tempos moldados pelas redes sociais. Por isso, de uma hora para outra, o ato público de Bolsonaro ganhou outra dimensão. Muita gente que não iria participar porque não queria apoiar o ex-presidente acabou mudando de ideia por conta das declarações de Lula.

Dessa forma, quem for à Paulista no domingo pode protestar à vontade contra a posição de Lula, claramente turbinada pelo ex-chanceler Celso Amorim. O advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, pressentiu esse fenômeno e convidou o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, no Brasil para se juntar à trupe que irá discursar no palanque. O pastor Silas Malafaia, organizador do evento, porém, se mostrou contrário ao convite, achando que o propósito inicial da manifestação seria desvirtuado. Aviso ao pastor: isso já aconteceu. Portanto, é melhor entender o que os manifestantes querem ouvir durante o domingo.

Na mesma reunião em que disse a seus assessores que tinha feito as declarações sobre a Faixa de Gaza de caso pensado, Lula discutiu a possibilidade de expulsar Zonshine do Brasil. Querer a expulsão de desafetos parece ser uma constante na vida de Lula. Em 2004, ele defendeu que o então correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rohter, fosse deportado, pois escreveu um artigo que começava da seguinte maneira: “Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu sua predileção por um copo de cerveja, uma dose de whiskey ou, ainda melhor, um gole de cachaça”. O texto insinuava que a bebida afetava o comportamento do presidente no exercício de suas funções.

Enfurecido, Lula chegou a pedir o cancelamento do visto de Rohter, mas voltou atrás. Naquele ano, inclusive, o governo conseguiu aumentar a octanagem de todas as crises que enfrentou, sendo a de Larry Rohter um dos episódios.

É o que parece estar acontecendo agora.

Diversas fontes próximas ao poder já disseram que o Palácio do Planalto não vai emitir um pedido de desculpas. Se essa intransigência for mantida – e o embaixador de Israel expulso do Brasil –, Lula vai comprar uma briga desnecessária com a comunidade judaica estabelecida no país, dona de grande influência no mundo empresarial. E ainda por cima, vai colocar azeitona na empada de Bolsonaro, que deverá arregimentar um público razoável neste final de semana.

Ironicamente, Lula conseguiu que as acusações de golpe que pairam sobre o ex-presidente fossem totalmente abafadas pela repercussão das declarações infelizes proferidas na Etiópia. Em nome da ideologia, o mandatário cria inimizades diplomáticas e, de quebra, infla o público do oponente político.

Isso faz algum sentido?

Trata-se, evidentemente, de uma pergunta retórica.

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