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Lula precisa deixar o rancor de lado e olhar para frente

Durante muito tempo, a direita usou de teorias da conspiração para encontrar explicações para crimes envolvendo políticos – e um exemplo desses é o assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em 2002. Agora, é a vez de a esquerda levantar hipóteses estapafúrdias para explicar atos criminosos. E a fonte dessa elocubração inconsistente vem do próprio presidente da República.

Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que os planos do PCC de matar membros do Judiciário e o senador Sérgio Moro seriam uma “armação” do ex-juiz. “Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Eu acho que é mais uma armação e, se for mais uma armação, ele [Moro] vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei mais o que ele vai fazer da vida se continuar mentindo como está mentindo. Mas o Moro não é minha preocupação”, disse o presidente.

O ex-ministro da Justiça rebateu imediatamente. “Vejo o presidente dando risada de uma família ameaçada pelo crime organizado. Essas declarações me causaram muita revolta”, alfinetou Moro.

Em seu terceiro mandato, Lula parece ter perdido a cautela que o acompanhou durante 2003 e 2010. O presidente tornou-se um homem rancoroso e aparentemente vingativo – e boa parte deste comportamento deve-se ao período que amargou na prisão em Curitiba. O responsável por seu encarceramento, o então juiz Sérgio Moro, é o alvo constante dessa revolta. Anteontem, em uma entrevista concedida ao site Brasil 247, ele usou termo chulos para definir o desejo de vingança que sente pelo atual senador.

Um presidente da República, porém, não pode ser levado por sentimentos de foro íntimo. Ele é o mandatário da Nação, aquele quem chefia o Estado e responsável pelo bem-estar de todos os brasileiros. Um presidente não pode admitir em público que deseja se vingar de alguém, mesmo que tenha todas as razões do mundo para isso.

Além disso, parece ser bastante improvável que Moro tenha criado pistas falsas para que a Polícia Federal desbaratasse um plano fajuto para matá-lo. Um plano que pretendia também, diga-se, eliminar outros membros da Justiça.

O PCC, neste episódio, quis mostrar uma estratégia semelhante à da Máfia italiana durante os anos 1990, quando matou juízes e procuradores, sempre procurando encontrar celebridades que servissem de exemplo à Nação (neste caso, Sergio Moro seria a celebridade necessária para amedrontar a sociedade).

A reação de Lula é lamentável.

De um lado, finge ignorar a participação do PCC no caso e os riscos pelos quais passaram os alvos dos bandidos. Isso é muito ruim para o Judiciário, pois sinaliza que o Planalto não acredita na versão oficial que foi divulgada pelo próprio ministro da Justiça, Flávio Dino.

De outro, temos criminosos desejando retaliar ações de Moro enquanto ministro, como mudanças nas regras para visitas a detentos e a transferência e o isolamento dos chefes da organização criminosa para presídios de segurança máxima. Esses motivos, medidas tomadas pelo governo brasileiro, foram ignorados pelo presidente – tudo em nome de uma rixa pessoal.

O presidente Lula precisa entender que está onde está porque os eleitores de centro se uniram à esquerda pois não aguentavam mais o clima belicista que Jair Bolsonaro imprimia à Nação. O mesmo Lula disse, no discurso em que comemorou sua vitória, que não havia dois “Brasis” e que era preciso pacificar o país.

Na prática, porém, o que vemos desde o início do ano é um festival de revanchismos. Lula está repetindo Bolsonaro em seus primeiros meses de governo, reverberando uma espécie de mimimi de vencedor. Vamos deixar o passado para trás, presidente. O que passou, passou. Vamos olhar para frente, pois o país precisa voltar a crescer.

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