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Lula vai do estadista ao populista no mesmo discurso

Poderia ter sido mais breve. Em seu primeiro pronunciamento público transmitido ao vivo em mais de cinco anos, a partir da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o ex-presidente Lula começou em tom comedido e escorregou para um discurso populista de teor nacionalista e intervencionista na economia. Ele também foi revanchista contra a imprensa, o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato, depois que suas condenações foram anuladas, na segunda-feira (10), o que obrigará novos julgamentos. Ele se diz alvo da “maior mentira jurídica contada em 500 anos de história [do Brasil]”. Mas omite que as anulações são provas cabais que seu direito de defesa se manteve.

De saída, passou álcool em gel nas mãos e explicou que estava distante dos demais, o que lhe permitia tirar a máscara. Na primeira parte, criticou pesadamente o presidente Jair Bolsonaro pela condução da crise da pandemia. “Não é saber se tem dinheiro ou não [para vacinas]. É saber se ama a vida ou a morte”, disse. A seguir, direcionou mensagens e agradecimentos a líderes internacionais, como o papa Francisco, o presidente argentino Alberto Fernández, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, o democrata americano Bernie Sanders, e o ex-presidente boliviano, Evo Morales.

Foi o lado estadista e conciliador. Lula disse que o Brasil precisa se reconectar ao mundo para voltar a crescer. Acenou para policiais, afirmando que são eles quem precisam de armas para enfrentar a criminalidade e agradeceu ao profissionais da saúde.

A seguir, na parte mais longa do pronunciamento, atacou os Estados Unidos de Trump, o liberalismo econômico, a livre concorrência, a grande imprensa – novamente -, a alta dos combustíveis, os ministros Paulo Guedes e Eduardo Pazuello, o isolamento diplomático que o país vive e explicou que foi vítima de um complô que transformou o ex-juiz Moro e o procurador Deltan Dallagnol em heróis. Também questionou o ministro Edson Fachin por ter demorado tanto tempo para analisar os argumentos de sua defesa.

Ao empresariado, reservou pouco tempo, afirmando que quando governava, havia diálogo aberto, o que não ocorre mais, ocasionando problemas como a saída da Ford do Brasil. No campo político, defendeu a criação de uma frente de partidos de esquerda nas eleições presidenciais de 2022 – mas teve o cuidado de não se apresentar como pré-candidato.

A questão que fica é onde ele está de fato, caso seja inocentado nos novos julgamentos – se ocorrerem antes das eleições.

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