Autoritário líder da Venezuela alega ser vítima de um complô da “direita fascista”. Ignorando as suspeitas sobre a eleição, preferiu chamar Elon Musk para briga
Ainda sem apresentar as esperadas atas eleitorais que comprovariam a lisura do pleito venezuelano, o presidente Nicolás Maduro reuniu a imprensa internacional no Palácio de Miraflores, em Caracas, nesta quarta-feira (31), para um monólogo televisionado com direito a ataques contra alegados conspiradores da direita internacional, como o bilionário Elon Musk, o presidente da Argentina, Javier Milei, e até os ex-presidentes do Brasil e Estados unidos, Jair Bolsonaro e Donald Trump.
Foi um desarrozoado sem provas e com atenção alguma ao que interessa: eleições nada transparentes, prisões sistemáticas de opositores e escalada da violência política homicida no país. Proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão que controla, Maduro afirma que a comunidade internacional formou um conluio para tirá-lo do poder, o que justificaria um autogolpe.
Segundo ele, caso a mobilização internacional se mantenha e “se o imperialismo americano ou os criminosos fascistas o forçarem”, seu governo não terá problema em convocar as forças armadas e “chamar o povo para outra revolução”. Ou seja, ele praticamente garantiu que seguiria o receituário golpista clássico de república de bananeira.
Houve tempo para delírios políticos mais avançados. Maduro se declarou um “guerreiro do amor” dedicado ao povo, deus e família – seja lá o que isso quer dizer. Daí piora. O grandalhão chegou a insinuar uma luta corporal com Musk – que aceitou publicamente, alimentando sua rede social X.
Além das ameaças institucionais, o herdeiro direito do chavismo economicamente falido e politicamente em franco isolamento leu trechos da Bíblia e citou a incredulidade de São Tomé diante da ressurreição de Jesus. Nessa mixórdia discursiva, também disse ter pedido à Suprema Corte do país que conduza uma auditoria da eleição presidencial – a partir de atas não divulgadas ainda. Como se parecesse de fato interessado em resolver o impasse que ele mesmo criou.
Do lado oposto, os oposicionistas María Corina Machado e Edmundo González declararam ter relatórios das máquinas de votação indicando que teriam vencido com mais de 6 milhões de votos contra 2,7 milhões de Maduro. Todavia, esta afirmação também é tão improvável quanto as do ditador autovitimizado, já que carecem do mais óbvio em uma eleição democrática: contagem auditada de votos.