Líder nas pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, Jair Bolsonaro (PSL) abraçou a pauta econômica liberal na disputa pelo Palácio do Planalto. Político com um histórico crítico ao liberalismo, o capitão reformado do Exército escolheu o economista Paulo Guedes como seu futuro ministro da Fazenda. O “posto Ipiranga” de Bolsonaro defende medidas que agradam ao mercado, como a privatização de empresas estatais e as reformas tributária e previdenciária.
Analistas do mercado financeiro ouvidos pelo MONEY REPORT apoiam a agenda de Guedes, mas se mostram céticos em relação às chances de o candidato implementar seu plano de governo. A principal dúvida recai sobre a capacidade de articulação política de Bolsonaro, que precisaria de apoio parlamentar para aprovar medidas delicadas, mas se elegeria sem o apoio de uma base partidária ampla. Confira a opinião dos analistas ouvidos pela reportagem:
Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial
Bolsonaro apoia as reformas, mas uma coisa é dizer que vai fazer, e a outra é fazer de fato. Essas pautas são difíceis por serem impopulares. Por mais que exista uma boa vontade sobre a questão econômica, não sei como ele faria essa negociação com o Congresso, que é fundamental para a aprovação das medidas. Para mim, ainda não está claro como ele vai tratar o ajuste fiscal, absolutamente fundamental para o país.
Glauco Legat, analista-chefe da Spinelli
Pessoalmente, eu não colocaria muita fé na capacidade de articulação política do Bolsonaro. Apesar de estar bem colocado nas pesquisas há meses, ele foi atrás do Centrão e não conseguiu apoio, o que demonstra fragilidade em negociações. Mesmo tendo um plano liberal, questiono se ele teria governabilidade para executá-lo. Seu histórico também não condiz com o de um liberal, ele é mais um “recém-convertido”. Em quase 30 anos de carreira política, votou contra projetos como o Plano Real e a Lei do Cadastro Positivo. É difícil comprar a versão que ele está tentando vender.
Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor
A grande dúvida é qual vai ser o papel do Paulo Guedes em seu governo, se ele vai ter liberdade para implementar o plano econômico apresentado pela candidatura do Bolsonaro. No que diz respeito à negociação com o Congresso, todos teriam dificuldade em negociar com os parlamentares, não acho que isso seria exclusividade dele. Qualquer um que seja eleito presidente vai ter problemas para aprovar seus projetos.
Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos
Não diria que o mercado apoia sua candidatura definitivamente. Ainda temos tempo até a definição das eleições. A princípio, o mercado pode conceder o benefício da dúvida ao Bolsonaro, pois ele, em tese, apoia uma pauta reformista. Porém, o próprio Paulo Guedes disse em sabatina no canal Globo News que ele tem um viés completamente liberal, enquanto o Bolsonaro tem uma visão mais estatizante, e que os dois teriam que chegar em um meio-termo em um eventual governo. Precisamos saber o que seria esse meio-termo.
Rafael Passos, analista da Guide Investimentos
Bolsonaro não é o candidato dos sonhos do mercado, mas ele vem defendendo reformas que agradam ao setor, como a da previdência. Na realidade, a grande aposta dos investidores é no Paulo Guedes. Há muitas dúvidas em relação ao grau de liberdade que ele teria em um governo Bolsonaro. Tudo indica que ele teria liberdade de ação, mas isso ainda é algo muito difícil de precificar.
Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO
Penso que o mercado está indo para o lado do Bolsonaro, pois o Paulo Guedes é competente e capaz. O pessoal joga as fichas nele, não no candidato. Podemos até fazer uma comparação com o Lula, que não sabia nada de economia, mas pôs o Henrique Meirelles no Banco Central e fez um bom primeiro governo, ao manter as políticas do Fernando Henrique Cardoso. O Guedes poderia fazer isso em um governo Bolsonaro.