Sob caos econômico e sem maioria no Congresso, ultraliberal tem como desafio combater a inflação e a pobreza: “No hay plata”. Já Cristina Kirchner acenou com o dedo médio
O economista Javier Milei tomou posse como presidente da Argentina neste domingo (10). O clima na posse refletiu o espírito da campanha do autodenominado libertário. Em vez da celebração ao candidato que derrotou o adversário político peronista Sergio Massa, ministro da Economia, o que se viu foram vaias aos antecessores, o agora ex-presidente Alberto Fernández (2019-2023) e sua vice, Cristina Kirchner, que também ocupou a presidência por duas ocasiões seguidas (2007-2015).
No livro de posse, fugiu muito do protocolo ao escrever: “Viva la liberdad carajo”. Apesar da grosseria, na Argentina a expressão não é tão ofensiva quanto no Brasil. A vice Victoria Villarruel foi comedida e escreveu apenas um “¡Todo por Argentina!”.
Já a ex-vice não ficou atrás na falta de compostura e gesticulou com o dedo médio em riste aos críticos ao chegar ao congresso. ela foi a encarregada de conduzir a cerimônia, pois na Argentina o vice preside o Senado.
Milei chegou à presidência com propostas polêmicas – algumas radicais – como o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia do país. No Congresso, ele foi saudado sob gritos de “Liberdade”, antes de fazer o juramento de seguir a Constituição e receber o bastão e a faixa presidencial do ex-presidente Alberto Fernández. Em seguida, Milei posou para fotos e acenou para apoiadores, mas não discursou, alterando a tradição da cerimônia.
Do lado de fora, ele defendeu um ajuste fiscal vigoroso e afirmou que não dinheiro nos cofres do governo: “No hay plata”. A seguir ele desfilou em carro aberto com paradas para saudar diretamente seus apoiadores.
Na sede do executivo, a Casa Rosada, Milei participará de uma recepção de líderes estrangeiros e terminará com um coquetel e festa de gala. Com a ausência de Lula, que repete o que fez Bolsonaro ao não ir à posse de Fernandez, em 2019, o representante brasileiro é o chanceler Mauro Vieira. Deverão cumprimentar o novo presidente os presidentes do Paraguai, Santiago Peña, do Uruguai, Luis Alberto Aparicio Alejandro Lacalle Pou, e do Equador, Daniel Noboa. Da Europa, confirmaram presença o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e os presidentes da Armênia, Vahagn Khachaturyan, da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro também deve participar. Depois da cerimônia na Casa Rosada, as celebrações de posse de Milei devem terminar no Teatro Colón, à noite.
Desafios
O partido do novo presidente conseguiu ampliar a base no Congresso nestas eleições, mas, ainda assim, está atrás das bancadas do peronista e Sergio Massa e da conservadora Patricia Bullrich.
Mesmo com o apoio de Bullrich e do ex-presidente Sergio Macri (2015-2019) durante o segundo turno, Milei terá que negociar intensamente com os macristas para contrabalancear suas radicais pautas econômicas com a direita mais amena do Proposta Republicana, que prega mudanças mais próximas da llinha do liberalismo clássico. .
Milei terá que encontrar soluções para evitar que a inflação na Argentina suba ainda mais. A taxa anual foi de 142,7% no acumulado de 12 meses até outubro. Subiu 50,3 pontos percentuais em 2023 e está acima de 3 dígitos há 9 meses.
O próximo resultado de inflação no país será divulgado na quarta-feira (13) com a taxa acumulada em 12 meses até novembro. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, declarou que a Argentina sofre consequências de “soluções fáceis” do passado que provocaram problemas no médio e longo prazo. Ele disse ter conversado com o futuro ministro da Economia do país, Luis Caputo, sobre o ajuste fiscal.
A dívida bruta do país foi de 88,4% do PIB no 2º trimestre de 2023, sendo que 57 pontos percentuais é em moeda estrangeira e 31,2 pontos é doméstica. Era de 85,2% em 2022 (57 externa e 28,2 interna). O estoque baixo das reservas internacionais agrava ainda mais a situação. Há mais de 4 anos e meio (9 de abril de 2019), era de US$ 77,5,7 bilhões. Caiu para US$ 21,2 bilhões em novembro de 2023.
O mercado de trabalho argentino também não é aquecido. A taxa de desemprego registrado no segundo trimestre de 2023 foi de 6,2%. Está abaixo que o nível registrado no Brasil no trimestre encerrado em agosto de 2023, de 7,8%, mas há diferenças metodológicas que impedem comparações.
O que MONEY REPORT publicou:
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