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Milei ganha fôlego com Bullrich, mas apoiadores atolam no mimimi

Em uma cena seminal do filme “Cidadão Kane”, os editores do New York Daily Inquirer estão discutindo que manchete irão estampar no jornal após o resultado das eleições. O pleito havia sido disputado pelo dono do rotativo, Charles Foster Kane, que envolvido em um escândalo, perdera a contenda. A primeira versão, “Kane eleito”, é descartada. Eles, então, dão uma olhada na segunda opção, já produzida: “Charles Foster Kane derrotado – fraude nas urnas”.

É impressionante como muitos eleitores de Direita, no Brasil, seguem o mesmo roteiro do filme estrelado, dirigido e co-escrito por Orson Welles. Houve derrota? Só pode haver uma razão: roubalheira na votação. Antes um comportamento típico de um segmento da Direita brasileira, essa atitude também ocorre, neste exato momento, na Argentina.

Uma reportagem publicada ontem pela Folha de S. Paulo mostra que houve 28.617 posts no X (ex-Twitter) sobre eleições fraudulentas na Argentina nas 24 horas seguintes ao pleito no qual Sergio Massa ficou em primeiro lugar e Javier Milei em segundo. Destes, 53,7 % foram postados nos 120 minutos seguintes ao resultado oficial.

Usar eventuais fraudes como desculpas é algo que se faz com frequência no Brasil desde 2018, quando milhares de vídeos com montagens começaram a circular mostrando que, em algumas urnas, era impossível votar em Jair Bolsonaro. O próprio ex-presidente, depois, iria sustentar a tese de que ele teria sido eleito ainda no primeiro turno brasileiro, não fosse a manipulação ocorrida nos computadores da Justiça Eleitoral. O que Bolsonaro nunca explicou, porém, foi a razão que levou os hackers a deixá-lo vencer no segundo turno, já que tinham o controle absoluto do resultado nas mãos.

Ficamos muitos anos discutindo se o sistema eletrônico de votos era seguro ou não. Dezenas de teses que diziam o voto impresso ser mais seguro circularam nas redes sociais. Várias pessoas surgiram como especialistas em segurança cibernética para atestar a fragilidade das urnas eletrônicas. Mesmo assim, não se obteve uma só prova atestando fraude eleitoral no Brasil.

No meio das discussões, muitos especialistas diziam que o voto impresso, ao contrário, possibilitava um esquema bem mais simples de fraude, com três estratagemas: preencher os votos em branco com um determinado nome, rasurar sufrágios com candidaturas inimigas e esconder as cédulas que apoiavam oponentes.

Na Argentina, o voto é impresso e segue um esquema diferente daquele que foi praticado no Brasil. O eleitor precisa inserir uma cédula com os candidatos de um só partido ou recortar várias para fazer um voto suprapartidário. Ou seja, não é exatamente algo fácil de burlar.

Mesmo assim, uma parte da Direita argentina está usando justamente a desculpa da fraude, seguindo o mote dado por Milei nas primárias, quando ele disse que teria cinco pontos percentuais a mais em seu resultado, mas irregularidades no processo eleitoral teriam reduzido sua votação final.

Está na hora, porém, de parar com o hábito de tapar o sol com a peneira: melhor seria deixar de dar desculpas esfarrapadas para justificar derrotas que podem ser atribuídas à dinâmica da campanha eleitoral. De um lado, Massa turbinou o discurso de medo, incutindo na população dúvidas a respeito das propostas de Milei. De outro, o candidato anarcocapitalista andou derrapando no quesito comportamento, criando uma rejeição maior do que a observada nas primárias.

Ontem, porém, surgiu uma luz para Milei. Patricia Bullrich anunciou seu apoio ao candidato que vai representar os direitistas argentinos em 19 de novembro. Trata-se de uma parceria importante, pois ela teve cerca de 23 % dos votos. Mas Milei é uma figura polêmica — e há um bom número entre os aliados de Bullrich que prefere não aderir a “El Peluca”. De qualquer forma, é uma aliança bem-vinda, especialmente porque a disputa, a exemplo do que ocorreu no Brasil, deve ser parelha. Por isso, Milei manda sinais até para alguns políticos de centro-esquerda, mostrando que pode ter amadurecido de um turno eleitoral para outro.

É com humildade, reconhecendo estratégias erradas e fazendo pontes que a Direita pode se rearrumar e tentar ganhar nos próximos pleitos. “Se aprendermos com nossos erros, seremos pessoas melhores. O que importa é como se lida com a adversidade e como essa adversidade afeta as pessoas”, diz o ex-presidente americano Bill Clinton. “O mais importante, neste processo, é nunca desistir”.

Clinton é um exemplo fortíssimo de político que aprendeu com seus erros. Ele ganhou a primeira eleição que disputou, com 27 anos, para deputado federal. Aos 32, foi eleito governador do Arkansas – mas perdeu a reeleição. Estudou as razões pelas quais havia sido derrotado e concorreu ao próximo pleito. Daí em diante, ganhou nas urnas todas as contendas seguintes, incluindo duas eleições para a presidência dos Estados Unidos.

É isso que a Direita precisa fazer: aprender com os próprios erros. E deixar de mimimi.

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