O Ministério Público do Rio (MP-RJ) pretende denunciar nos próximos dias o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Fabrício Queiroz, seu ex-assessor quando deputado estadual e subtenente da reserva da Polícia Militar fluminense.
Segundo o jornal O Globo, Flávio deverá ser apontado como líder de uma organização criminosa que se beneficiava de parte dos salários de funcionários lotados em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Queiroz seria o operador do esquema de “rachadinha” salarial, arrecadando o dinheiro e o depositando em contas diversas. Até a atual esposa do presidente Jair Bolsonaro, a primeira-dama Michelle, teria recebido depósitos em sua conta corrente. Flávio e Fabrício serão acusados dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Após dois anos de investigação, o caso foi para o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Por meio de quebras de sigilos bancário e fiscal, os promotores descobriram a movimentação de R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo depositado ou usado para pagar contas pessoais, em um processo contínuo de lavagem de pequenas somas. Não se sabe a origem de todos os recursos.
A investigação começou em julho de 2018, depois que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou a movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. O período inicialmente analisado ia de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.
Há indícios de que o senador sabia ser alvo de uma investigação, recebendo informações de um delegado da Polícia Federal, conforme denúncia de um ex-aliado. Flávio Bolsonaro conseguiu evitar, em parte, ser investigado, protegido pelo foro privilegiado. Porém, os crimes teriam ocorrido quando ele era deputado estadual (2003-2018), cargo eletivo que não mais exerce. Por isso o caso pôde ser encaminhado ao TJ-RJ, onde será avaliado.
Por causa da investigação, Fabrício Queiroz ficou “desaparecido”, até ser localizado pela polícia, em 18 de junho, em um sítio em Atibaia (SP). O imóvel pertence ao advogado Frederick Wassef, que na ocasião trabalhava para Flavio Bolsonaro e frequentou o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente Jair Bolsonaro.
A investigação do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) do MP-RJ cita 23 ex-assessores do gabinete do agora senador Flávio Bolsonaro. Eles são divididos em seis grupos. Um núcleo seria ligado a Fabrício Queiroz e contaria com 13 ex-funcionários, incluindo familiares do ex-assessor, além de vizinhos e amigos indicados por ele ao gabinete do chefe. Em outro grupo, aparecem Danielle Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães, respectivamente, ex-mulher e mãe de Adriano Nóbrega, ex-capitão do Bope e líder de uma milícia, morto em um tiroteio na Bahia, em fevereiro. O terceiro grupo contaria com 10 ex-assessores residentes em Resende (RJ), cidade onde membros da família Bolsonaro viveram. Entre os suspeitos, nove têm parentesco com Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher e mãe do filho mais novo do presidente Jair Bolsonaro.
Os demais três grupos contariam com parceiros de negócios do senador: o núcleo de Alexandre Santini, sócio de Flávio numa loja de chocolates, outro com Glenn Dillard, dono de consultoria imobiliária, e um último com o policial militar Diego Ambrósio, dono de uma empresa de vigilância.