Raquel Stucchi, epidemiologista, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explicou como a CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac, em parceria no Brasil como o Instituto Butantan, pode fazer toda a diferença contra a covid, ao aliviar o sistema de saúde pública, principalmente nos casos moderados, cuja eficácia divulgada é de 78%. Stucchi diz também que o índice de 100% de eficácia para os casos graves deve ser visto com cuidado, pois abrangeu um número pequeno de pacientes.
O que as autoridades querem dizer quando afirmam que a eficácia de 50,38% é global. A CoronaVac apresentou resultados diferentes na Indonésia?
Creio que nesse país e também na Turquia, o número de voluntários analisados foi muito pequeno [se comparado com o Brasil]. Para acabar com essas dúvidas, o ideal é que a Sinovac reúna todos esses dados em uma única publicação.
Como esses cálculos de eficácia são feitos?
O dado de eficácia é levantado entre vacinados e quem recebeu placebo, determinando quantos desenvolveram a doença em cada um dos grupos. Vamos supor que 31 pacientes voluntários que tomaram placebo tiveram a doença em quadro moderado, contra 7 que receberam a vacina e desenvolveram os mesmos sintomas. A partir daí se faz a conta se estabelece a média de proteção perante o total.
A vacina vai conseguir mesmo reduzir os riscos para quem está doente em praticamente 100% dos casos?
Essa informação de 100% é para as formas graves da doença. Na minha opinião, o que realmente importa é a proteção de 78% contra as formas moderadas. É simples. Ao diminuirmos em 78% as internações, desafogaremos o sistema de saúde. Esse é o dado mais importante da vacina do Butantan. O índice de 100% para os casos graves exige cuidado na observação, pois abrangeu um número pequeno de testados.
A eficácia para as formas moderadas é boa?
O índice de 78% é bem adequado, pois a partir da hora que não temos mais quadros moderados, só os leves, a covid passará, de fato, a ser uma gripezinha.
Quanto da população teria que ser vacinada para a doença ser isolada? E quanto tempo demoraria?
Os cálculos indicam que para termos um controle da doença seria preciso vacinar 70% da população [150 milhões de pessoas], mas acredito que controlando e reduzindo as internações, já teríamos uma excelente medida. Por isso, a eficácia global de 50% da CoronaVac é aceitável. A doença é grave e não temos nenhuma outra forma de controle disponível além de vacinas.
Ao mutar, o vírus pode tornar as atuais vacinas ineficazes?
As mutações podem comprometer a eficácia das vacinas. Mas, por enquanto, as variantes registradas no Brasil, África do Sul e Reino Unido não comprometeram a eficácia de nenhuma das vacinas em uso. Vamos torcer para que continue assim.
E no caso dos que tomaram placebo, mas não se contaminaram, pois ficaram em isolamento. Isso não cria uma distorção no resultado?
No caso da CoronaVac, este dado não se aplica, pois todos os que receberam a vacina e o placebo eram profissionais de saúde da linha de frente. Gente que estava trabalhando e em contato com o vírus.
Assintomáticos entraram na estatística de eficácia do Butantan?
Pelo que foi divulgado, os assintomáticos não fizeram parte dos grupos de análise da CoronaVac.