O presidente Jair Bolsonaro já deixou claro a aliados que não tem intenção de permanecer no PSL. A relação com o presidente nacional do partido, o deputado federal Luciano Bivar (PE), azedou e parece questão de tempo para o divórcio ser concretizado. A tendência, no entanto, é que o caso se arraste e vire uma novela.
É importante frisar que Bolsonaro tem autonomia para fazer a mudança a hora que bem entender. Não se sabe, até o momento, se ele pretende migrar para outra legenda ou criar uma do zero. O mesmo não vale para os deputados federais da agremiação, como seu filho Eduardo, que podem perder o mandato por infidelidade partidária caso resolvam tomar o mesmo caminho. Esses parlamentares devem encontrar argumentos plausíveis para conseguir uma desfiliação por justa causa ou estarão sujeitos a um processo de cassação.
A eventual saída de Bolsonaro do PSL também irá desconfigurar a base de apoio do governo no Congresso. Isso porque, dentro do partido, há uma ala pró-presidente e outra pró-Bivar – e ambas com poder de fogo para tirar proveito da situação e criticar o outro lado. Somado a isso está o polpudo recurso do fundo partidário. O PSL terá mais de R$ 100 milhões para financiar campanhas no próximo ano. Quem deixar o partido perderá o acesso a essa fonte.
Em busca de um novo partido, Bolsonaro já projeta a campanha pela reeleição em 2022. Mas no meio desse caminho estão as eleições municipais do próximo ano. Sem uma estrutura partidária adequada e sem dinheiro, Bolsonaro pode não conseguir eleger muitos aliados, especialmente nas maiores cidades do país. Na prática, isso pode fragilizar ainda mais sua base.
Com todos esses motivos para colocar na balança, o temperamento impulsivo de Bolsonaro não pode ser desprezado. O que se passa na cabeça dele é um mistério. Por isso, não podemos descartar uma reconciliação com Bivar e a permanência no PSL – apesar de todo o desgaste do processo.