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O ‘day after’ do 2º turno e suas lições

O 2º turno das eleições pode dar algumas pistas importantes sobre o que será o pleito presidencial de 2026. Um indício disso é a queda irrefutável da importância relativa dos maiores cabos eleitorais do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Lula viu a esquerda encolher entre as prefeituras brasileiras e Bolsonaro amargou a derrota dos candidatos mais alinhados ao seu estilo político. Ao comparar esses dois nomes, no entanto, podemos concluir que a situação do petista é pior. Afinal, a direita – quadrante ideológico dos bolsonaristas – saiu fortalecida em relação ao PT e às demais siglas esquerdistas. Trata-se, porém, de um grupo direitista que não necessariamente está alinhado ao ex-presidente.

O fracasso mais visível da esquerda pode ser observado nas capitais nordestinas, entre as quais o PT obteve a prefeitura de Fortaleza – mas foram os candidatos de centro e de direita levaram os maiores municípios da região. Esse fenômeno chama a atenção, pois convencionou-se, nos últimos tempos, a associar o Nordeste ao petismo, especialmente depois que o Bolsa Família foi disseminado por Lula.

Ocorre que nem sempre foi assim. Uma das primeiras providências do governo militar depois de 1964 foi justamente mudar a proporcionalidade da composição da Câmara Federal, dando maior peso ao Nordeste, em uma clara manobra para diminuir a representatividade da oposição ao regime, mais disseminada no Sul e no Sudeste. Durante as décadas de 1970 e início dos anos 1980, os eleitores nordestinos, de maneira geral, votaram mais na Arena e no PDS (legendas que apoiavam os militares) do que nos partidos oposicionistas.

O que está mudando? Provavelmente, o programa Bolsa Família vem sendo percebido como uma política de Estado – e não de um partido, no caso o PT. Nas eleições recentes, muitos eleitores da região podem ter votado em Lula, Dilma Rousseff e Fernando Haddad porque estes candidatos jamais acabariam com esse programa. Após o governo Bolsonaro, no entanto, quando o Bolsa Família foi até turbinado, o medo de que esse programa social fosse extinto por um outro governo que não o petista foi reduzido.

Dessa forma, o Bolsa Família passou a ser visto por todos os políticos como algo institucional e intocável. O mesmo ocorreu aqui em relação a determinadas medidas que são populares até hoje aqui em São Paulo, como o bilhete único e a criação dos CEOs, ambos implementados por Marta Suplicy – ou as ciclovias e o fechamento da avenida Paulista aos domingos, ideias de Fernando Haddad. Hoje, essas medidas são vistas como políticas da prefeitura e não mais associadas ao partido X ou Y.

A polarização sai menor desta eleição, com o triunfo de vários políticos de centro, como o prefeito reeleito de São Paulo. Esta vitória, no entanto, tem dois padrinhos. Um é o governador Tarcísio de Freitas, que botou seu prestígio pessoal na reta e foi às ruas honrar o acordo político que tinha firmado com Nunes. Não se intimidou com o distanciamento de Bolsonaro em relação à disputa paulistana, que teve o candidato Pablo Marçal como grande estrela e que seduziu boa parte do eleitorado de direita no primeiro turno. Tarcísio contou também com o apoio importante de seu secretário de governo, Gilberto Kassab, que costurou apoios importantes e foi um dos fiadores da reeleição.

O outro padrinho da vitória de Ricardo Nunes é o presidente Lula. Lula? Como assim?  Ele não apoiava Guilherme Boulos?

Ao prometer a Boulos que ele seria seu candidato à prefeitura de São Paulo, Lula definiu a derrota da esquerda no pleito que se encerrou ontem. Qualquer estudante de primeiro ano de Ciências Políticas poderia enxergar que Boulos era um político com bom trânsito entre os eleitores mais jovens, mas sofria de uma rejeição atroz entre a maioria dos paulistanos. O presidente, no entanto, achou que seu aval seria suficiente para garantir uma vitória na maior cidade do país.

Não foi. A arrogância de Lula, assim, ajudou tremendamente ao prefeito Nunes a explorar um discurso contra o suposto radicalismo de seu adversário, que ainda por cima não tinha experiência em cargos no poder Executivo.

Segundo o colunista Lauro Jardim, a campanha de Boulos torrou R$ 80 milhões em 2024, contra R$ 9,9 milhões de quatro anos atrás. Em 2020, o psolista teve 40,62% dos votos válidos, ou 2,186 milhões de sufrágios. Neste ano, ele conseguiu 40,65% dos votos válidos, ou 2,323 milhões de eleitores.

Na prática, gastou oito vezes mais e ficou no mesmo lugar. Apesar de ter tentado parecer mais moderado, não convenceu o eleitorado paulistano e obteve uma rejeição que marcava o índice de 52% na última pesquisa Datafolha.

Dos quatro governadores constantemente apontados como candidatos potenciais à presidência (Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior e Romeu Zema), três conseguiram eleger os prefeitos de suas capitais e apenas um (Zema) perdeu. Essa derrota poderá custar caro a Zema qualquer ambição relativa a 2026 e, sem dúvida, vai melhorar o cacife dos colegas para uma eventual candidatura presidencial.

Esse pleito se encerra com o centro em ascensão e três governadores (Tarcísio, Caiado e Ratinho) demonstrando força, com vantagens para o ocupante do Palácio dos Bandeirantes. Por outro lado, é possível enxergar o PT refém da candidatura de Lula, sem espaço para outros nomes na esquerda.

Em São Paulo, na reta final, houve dois golpes abaixo da linha da cintura que chamaram a atenção. Primeiro, um vídeo com a primeira-dama, Janja da Silva, falando sobre o Boletim de Ocorrência envolvendo o prefeito Nunes e sua esposa, Regina. Desnecessário e oportunista. Outro foi a acusação do governador Tarcísio de que o PCC estava recomendando o voto em Boulos. Como não apresentou provas, também foi algo dispensável e inapropriado.

Se Bolsonaro se mantiver inelegível e Pablo Marçal tiver algum impedimento eleitoral (o episódio do laudo falso pode lhe custar a elegibilidade), Lula terá como adversário um candidato de centro ou de direita moderada que vai dar muito trabalho. Isso, combinado a um eventual desgaste do PT e a uma provável queda no calibre da polarização política, poderá levar a uma derrota da esquerda em 2026.

Mas dois anos, em política, é uma eternidade. Há tempo suficiente para uma recuperação do PT até lá. Pelo que se viu ontem, porém, os centristas e direitistas têm muito mais chances para sonhar com uma vitória daqui a dois anos do que os petistas.

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