Uma das explicações para a rapidez com a qual as fake news se espalham é justamente a sofreguidão com a qual os internautas repassam textos, vídeos ou fotos. Essas mensagens possuem conteúdos que casam com as ideias desses indivíduos. Por isso, eles não se dão ao trabalho de checar as devidas fontes e vão passando tudo para a frente, na base do “se colar, colou”.
No domingo, por exemplo, começou a circular um vídeo com urnas eletrônicas sendo carregadas em um caminhão. Esse ato foi ligado às declarações do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que fez acusações à integridade dos equipamentos eleitorais produzidos antes de 2020. Juntando “lé” com “cré”, o autor do vídeo insinuava que o Tribunal Regional Eleitoral estava se livrando das urnas por conta das pretensas denúncias de Valdemar.
Ocorre que as engenhocas em questão já não eram utilizadas e tinham de ser descartadas. Mas por que fazer isso em pleno domingo? Ocorre que, no centro da cidade de São Paulo, há restrição para a circulação de caminhões. É por isso que o Tribunal Regional Eleitoral, em ofício datado de 7 de novembro, avisa a Companhia de Engenharia de Tráfego que a retirada de equipamentos se dará aos domingos, nos dias 13, 20 e 27.
Mas aqueles que gostam de uma teoria da conspiração não se deram por vencidos. E passaram a difundir outro post, segundo o qual era “suspeito” que um vereador do PT estivesse transportando urnas eletrônicas no final de semana.
Mais uma vez, os espalhadores de fake news foram traídos pela sofreguidão. Ocorre que a transportadora contratada pelo Tribunal é de um cidadão chamado José Carlos Borges. Muitos bolsonaristas passaram a veicular que este empresário era um vereador do Partido dos Trabalhadores. Mas se trata apenas de um homônimo (convenhamos, não é um nome tão original assim). O Borges petista, inclusive, nem vereador é: concorreu às eleições no interior da Bahia, mas perdeu.
Desde que as eleições se encerraram e Luiz Inácio Lula da Silva venceu, estamos vivendo uma turbulência política que não tem mais fim. Gente inconformada com o resultado é utilizada como massa de manobra para repassar vídeos que direta ou indiretamente atacam o processo eleitoral.
Tomemos um vídeo, que também circulou no domingo, com caminhões do exército estacionados na Praça da Sé. O locutor dizia que aquele era o primeiro passo das Forças Armadas para impedirem a posse de Lula. Mas… era apenas o exército colaborando em uma ação para melhorar as condições de pessoas em situação de rua.
A credibilidade dessas pessoas junto aos amigos vai se diluindo a olhos vistos. Mas a impressão que se tem é a de que credibilidade não é exatamente uma prioridade entre esses cidadãos e cidadãs. Como diria Chacrinha, eles e elas não vieram para explicar – apenas para confundir.