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O futuro político do Brasil passa por Kassab

Gilberto Kassab é o protótipo do político de bastidores, na escola de Tancredo Neves, Thales Ramalho e Petrônio Portella. Foi deputado, prefeito e ministro – mas sua vocação mesmo é a costura de alianças e acordos. Para isso, movimenta-se com maestria entre esquerda e direita e consegue fechar apoios inimagináveis. Não é à toa que obteve a primazia de ser um dos nomes fortes do governo de Tarcísio de Freitas e, ao mesmo tempo, controlar três ministérios na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Seu partido, o PSD, conquistou 878 prefeituras no primeiro turno, figurando como a legenda que com maior número de vitórias na primeira etapa eleitoral. Além disso, ele foi um dos fiadores da campanha de reeleição de Ricardo Nunes em São Paulo, mesmo quando Pablo Marçal parecia ter alijado o prefeito do segundo turno. Jogou seu cacife para manter o governador Tarcísio de Freitas ao lado de Nunes e os dois – Tarcísio e Kassab – saíram como vencedores em 6 de outubro.

Não é à toa, portanto, que Gilberto Kassab tenha sido, ontem, alvo de longas entrevistas nos três principais jornais do país (“O Globo”, “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo”). As três publicações queriam ouvi-lo para entender o que pensa aquele que será uma das principais figuras da eleição de 2026.

Nas entrevistas, Kassab equilibrou-se para exaltar Tarcísio e não melindrar Lula. Defendeu inclusive que o governador se resguardasse para disputar a presidência apenas em 2030. “Lula não pode ser menosprezado nunca. É um dos motivos para eu achar que o Tarcísio não deveria concorrer à Presidência. Enfrentar o Lula nunca é fácil”, disse ele ao “Globo”.

De fato, há muitas variáveis abertas em relação ao pleito presidencial. A jogada mais segura, para o governador, é tentar a reeleição, até porque Tarcísio de Freitas é um político jovem: tem apenas 49 anos, completados em junho. Ou seja, ele entraria na disputa de 2030 com 55 anos. Portanto, poderia esperar a sua vez com tranquilidade.

O problema pode ser o oponente de Lula em 2026. Caso o presidente seja derrotado por um postulante de centro ou de direita, o caminho estaria congestionado para Tarcísio, uma vez que o presidente em exercício seguramente buscaria ser reconduzido ao cargo. Dessa forma, o caminho para o governador teria de ser o do Senado.

Kassab está atento a essas possibilidades e prefere não discutir em público as possibilidades que o governador tem diante de si para preservá-lo. Mas, no fundo, sabe que a candidatura presidencial de Tarcísio é algo frequentemente discutido nas altas rodas políticas e tem grandes chances de emplacar.

O hoje secretário estadual é uma pessoa cordial e calma. No entanto, nem sempre teve esse comportamento na época em que exerceu o cargo de prefeito, quando mostrou algumas explosões emocionais no ano de 2007. Ao sair da catedral da Sé, em um aniversário da cidade de São Paulo, gritou com manifestantes. Em outra ocasião, expulsou da inauguração de uma unidade de saúde um cidadão que lhe fez críticas diante das câmeras de televisão. O então prefeito empurrou o homem, aos berros, chamando-o de “vagabundo”.

O Kassab dos bastidores, no entanto, parece ter paciência infinita e equilíbrio a toda prova. Nessas próximas três semanas, vai precisar dessas habilidades como nunca. Afinal, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos têm como principais cabos eleitorais, respectivamente, Tarcísio e Lula – justamente os seus dois principais aliados.

Se Kassab passar por essa eleição sem se desentender com o governador ou com o presidente, vai ganhar, por unanimidade, o prêmio Teflon – aquele que é conferido aos políticos que passam por situações difíceis sem que nada de ruim grude em sua imagem.

Será que ele consegue?

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