O cargo de ministro-chefe da Casa Civil é importantíssimo em qualquer governo. O titular dessa pasta é o único, entre todo o ministério, a ter a alcunha de “chefe” em seu cargo. Isso não é uma casualidade. Quem se aboleta no quarto andar do Palácio do Planalto é uma espécie de líder dos ministros – como se fosse o diretor de operações (COO) do Executivo, que tem na figura do presidente da República o seu CEO. Além de coordenar o trabalho dos colegas, este ministro tem outra missão importante: ser o para-raios das insatisfações dos congressistas, mesmo que exista um porta-voz específico para essa função.
O chefe da Casa Civil, assim, é uma eminência parda, um títere do presidente que se movimenta nos bastidores do poder. Dentro deste contexto, este ministro precisa ser um indivíduo com livre trânsito entre todos os partidos e contar com grande simpatia por parte dos membros da Esplanada. Em um mundo ideal, precisa ser querido e cortejado por deputados e senadores. E, ao mesmo tempo, temido por eles.
Mas o que temos hoje, com o ex-governador Rui Costa ocupando esse cargo? Um quadro bem diferente daquilo que seria aconselhável para qualquer governo, revela a pesquisa Genial/Quaest realizada semana passada entre os membros da Câmara Federal. O ministro é o mais rejeitado entre o primeiro escalão do Executivo: 39% dos parlamentares classificam sua gestão como negativa, 27% como neutra e 29% como positiva.
Quando observamos a avaliação junto aos deputados de oposição, a desaprovação evidentemente cresce: 75% dos oposicionistas reprovam sua administração. Entre a base governista, também existem descontentes: 13% dos aliados não gostam da atuação de Rui Costa.
Muitos reclamam de uma suposta arrogância por parte de Costa – entre esses queixosos estaria até o senador Jacques Wagner, tido como uma espécie de padrinho político do ministro. A revista Veja, dias atrás, publicou uma nota segundo a qual a relação entre os dois estaria estremecida. “Rui é bruto até na forma de falar”, teria dito um interlocutor dos dois petistas.
Não se pode dizer que a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva viva o seu melhor momento. A desaprovação de Lula está em alta, a economia ainda não se recuperou e a relação entre Planalto e Congresso não é das melhores. Este seria justamente o momento de baixar a bola e calçar as sandálias da humildade.
Os observadores de Brasília, no entanto, enxergam o contrário: parece que Rui Costa reage com teimosia às críticas que ouve e acaba carregando na tal da arrogância. Trata-se de uma queda de braço com os parlamentares que não trará bons resultados para os dois lados. Rui Costa deveria entender isso. Afinal, não estamos falando de um novato na política: o ministro tem 61 anos e já foi governador por dois mandatos.
Vamos dizer que o governo esteja apostando em uma estratégia “good-cop-bad-cop”, com Rui Costa endurecendo o discurso e seu colega, Alexandre Padilha (Relações Institucionais), encarregado de distribuir simpatias junto ao Congresso. Ocorre que Padilha também não é bem visto pelos parlamentares. Ou seja, adotou-se uma tática suicida para o diálogo com os congressistas: “bad-cop-worse-cop”.
Deste jeito, o governo vai sofrer muito a cada vez que precisar aprovar projetos importantes para a administração – e ter de abrir os cofres de uma forma muito mais generosa do que poderia fazer se usasse de diplomacia, bom humor e boa-vontade. Às vezes, um deputado não quer apenas verba. Quer ter uma porta aberta, ser ouvido e se sentir prestigiado pelo Planalto. Esse tipo de relacionamento requer disposição para o diálogo, além de paciência e empatia.
Essas três, no entanto, são habilidades que o ministro parece não ter. Como resolver isso? Talvez esse seja o tipo de problema que somente será solucionado com uma reforma ministerial radical. Daquelas que precisam começar pela dupla de negociadores parlamentares: Costa e Padilha.