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O novo sofá de Lula, que custa R$ 65 mil: sai a demagogia, entra a hipocrisia

O jornal Folha de S. Paulo mostrou ontem que o Palácio do Alvorada comprou cinco móveis, em uma loja de Brasília, por R$ 196.770,00. Um deles chama a atenção: trata-se de um sofá de couro italiano, com comandos elétricos para melhor acomodar cabeça e pés. O preço? R$ 65.140,00. Como foi uma peça de mostruário, até que saiu barato. Um móvel similar, por encomenda, não sai por menos de R$ 90.000,00.

O governo justificou a compra por conta do péssimo estado do acervo mobiliário do Alvorada, cujo interior foi até mostrado em programa de TV pela primeira-dama, Janja da Silva. De fato, o interior palaciano estava em condições ruins – e uma nota oficial emitida pelo Planalto afirma que 83 móveis listados no patrimônio da residência oficial do presidente da República ainda não foram localizados.

Portanto, percebe-se que havia mesmo a necessidade de se comprar novo mobiliário para o Alvorada. E, como se trata de uma das maiores obras arquitetônicas do Brasil, desenhado por Oscar Niemeyer, não se poderia adquirir peças baratas e/ou de gosto questionável.

Ocorre que, em maio de 2022, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva deu a seguinte declaração em um evento promovido pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao Partido dos Trabalhadores: “Nós temos uma classe média que ostenta um padrão de que não tem na Europa, que não tem muitos lugares. As pessoas são mais humildes. Aqui na América Latina chamada classe média ostenta muito um padrão de vida acima do necessário. Tem um limite que pode me contentar como ser humano. Eu quero uma casa, eu quero me casar, eu quero ter um carro, eu quero ter uma televisão, não precisa ter uma de cada. Uma televisão já está boa”.

A manifestação do presidente, quase um ano atrás, mostrava um alinhamento com o padrão monástico de consumo. Porém, o que se enxerga, com essa nota fiscal de R$ 196.770,00, é que aquele discurso era tão falso quanto uma nota de três reais — ou que a demagogia deu lugar à hipocrisia.

Muitos acham que Lula, pelas origens operárias, não pode usufruir de bens e serviços sofisticados. Não penso assim. O presidente da República, seja ele operário, sociólogo, militar ou empresário, pode e deve desfrutar do luxo que vem acompanhando o cargo (desde que não promova descalabros orçamentários ou cometa crimes como peculato, se apropriando de bens públicos).

O que incomoda não é ver um petista comprando móveis de luxo para seu uso. O problema está em ver alguém que criticou a classe média de seus país se comportar de forma similar ao padrão que motivou o julgamento negativo.

As pessoas têm direito a gastar seu dinheiro da forma que bem entenderem. Muitos exageram neste processo e são vítimas de chacota, devido ao exibicionismo e ao deslumbre típico de um nouveau riche. Mas isso é problema de quem esbanja os próprios recursos. Ainda vivemos em um regime capitalista e o país ainda é livre.

Falando em liberdade, o presidente igualmente tem o direito de se manifestar da forma que quiser, mesmo que seja para espinafrar o aspecto consumista das classes afluentes. O que Lula não pode fazer é criticar a eventual ostentação da classe média brasileira e, uma vez ocupando o Palácio do Alvorada, comprar móveis de luxo.

Mark McKinnon, estrategista político americano e um dos responsáveis por levar George W. Bush à Casa Branca, acredita que não existe nada pior para um político do que a falsidade e a jacobice. “A hipocrisia é uma espécie de letra escarlate para os políticos”, diz ele. Como se sabe, essa expressão foi popularizada por um livro de mesmo nome, no qual uma mulher que habitava em uma comunidade puritana em Massachusetts fica grávida e é acusada de adultério. Como não revela o nome do pai da criança, ela tem a letra “A” (de adúltera) bordada em todas as suas roupas e passa a viver um cotidiano de humilhações.

Aqui no Brasil, a hipocrisia no cenário político não é vista de forma impiedosa como nos Estados Unidos. Até porque se tirássemos todos os hipócritas da cena política, teríamos apenas meia dúzia de nomes para votar.

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Comentários

Uma resposta

  1. Precisamos mudar, reformar a noção, a compreensão do que é o cargo de Presidente da República, porque hoje é visto como uma posição de monarca eleito pela plebe rude, sem noção nenhuma de que se trata de uma mera função administrativa de uma estrutura que não passa de uma grande administradora de condomínio.
    Mais ainda é necessário entende que não existe um cargo de “primeira dama”, apenas a esposa, companheira, etc, do cidadão que está, temporariamente ocupando a função de executivo principal da tal administradora de condomínio.
    Uma democracia não tem lugar para machos e fêmeas alfas do bando.

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