Em vez de diplomacia e um posicionamento sobre a grandes questões globais, presidente usou o encontro para fazer campanha
O quarta discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) na 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) foi um repeteco para esquecer tanto para brasileiros quanto para os chefes de estado presentes. Em seu pronunciamento – preparado e discutido com sua equipe estratégica de campanha -, ele repetiu que a economia brasileira está em plena recuperação e que o governo eliminou o que chamou de corrupção sistêmica. Ele discursou após o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Bolsonaro pintou um Brasil a partir de sua bolha, lançou ataques (sem citar nomes) ao Partido dos Trabalhadores (PT) e inflando seus feitos, saindo completamente do caráter diplomático e ecumênico das Nações Unidas, como desenvolvimento, democracia, combate à pobreza extrema, educação, saúde, refugiados e negociações de paz. Em vez disso, citou que a gasolina brasileira seria uma das mais baratos do mundo, que há deflação e privatização de estatais. Ainda sobrou tempo para pontuar os programas de transferência de renda do governo, principalmente no início da pandemia. Na esfera global, defendeu um cessar-fogo imediato por parte do governo russo. Vale lembrar que Bolsonaro jamais condenou a invasão da Ucrânia, ordenada pelo presidente Vladimir Putin.
O presidente repetiu que o país alimenta o mundo e que pobreza por aqui cai de forma acentuada. Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar mostram que 33 milhões de brasileiros não têm acesso regular a alimentos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também aponta que mais de 10 milhões de pessoas estão desempregadas. E embora o país tenha registrado deflação de 0,68% em julho, a alta acumulada de preços nos últimos 12 meses ultrapassa 10%.
Na prática, o presidente cumpriu tabela na agenda da ONU e volta à vida real a partir desta quarta-feira (21), quanto retoma uma série de encontros políticos para diminuir sua rejeição junto ao eleitorado, uma vez que seu QG de campanha já mira as dificuldades do segundo turno contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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