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Como a elite colabora para o atraso do país

Em artigo distribuído a clientes, Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, apontou para um problema fundamental para a compreensão das mazelas do Brasil: a inaptidão da elite em atuar em prol do desenvolvimento do país.

Há quem defenda que um país se desenvolve educando a população. Faz sentido. Ter uma população bem-educada é condição fundamental para um país mais inovador e com responsabilidade cidadã. Mas erra quem pensa que o primeiro passo para o desenvolvimento é o incremento educacional e que as mudanças virão de baixo para cima. Não virão. O primeiro passo é a criação de um consenso da elite em prol do desenvolvimento do país – e os investimentos educacionais são uma das medidas que decorrem a partir disso. Para uma nação se desenvolver, ela deve ser puxada pela elite, que criará consensos em torno de políticas que levem à prosperidade.

Infelizmente, nossa elite, com uma quantidade razoável de exceções, prefere olhar para o próprio umbigo. Prova disso são os grupos de interesse que buscam benesses para si – à custa do restante da população. Na literatura econômica, são os “rent seekers”, ou tomadores de renda. A elite brasileira é pródiga em criar vários desses grupos. Engana-se quem pensa que são apenas políticos que enriquecem à custa dos demais. Há rent seekers entre empresários, que visitam Brasília para conseguir isenções de impostos ou crédito subsidiado; há financistas, que fazem pressão para, por exemplo, o Banco Central aumentar os juros quando os investimentos em outras áreas não vão bem. E, há, claro, os altos funcionários públicos, que criam benefícios negados a outros setores, como auxílio moradia, licença-prêmio, férias de dois meses e aposentadorias muito acima da recebida pelo trabalhador da iniciativa privada.

Em comum a eles, o discurso e o efeito: na defesa das políticas setoriais, há sempre o argumento de que os benefícios serão espalhados para todos, seja via aumento de empregos, ou investimentos. Quase nunca isso é verdade e o efeito acaba sendo um só: enriquecimento de poucos, e empobrecimento geral. Exemplos: se um determinado setor da atividade econômica paga menos impostos, outro vai ter que pagar mais para compensar a perda na arrecadação. Se consegue obter taxas de juros menores do que a média de mercado, o efeito é subir a taxa média para compensar esse benefício. E, claro, temos o exemplo dos caminhoneiros, que conseguiram tabelamento do preço do frete e barateamento do preço do diesel.

O economista Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper, e que é casado com Zeina, cunhou com a mulher a tese da “meia entrada” ao iniciar sua cruzada contra os benefícios setoriais. A analogia é perfeita. Para compensar o excesso de bilhetes vendidos por metade do preço normal, cinemas e promotores de shows simplesmente aumentam o preço para compensar a perda de arrecadação com o benefício. E quem paga a conta? Quem não faz parte dos grupos beneficiados.

Admitir a existência de setores da elite que atuam apenas em benefício próprio não pressupõe concordância com a desgastada tese da “luta de classes”, na qual a elite explora o proletariado, que permanece pobre. Há tomadores de rendas entre sindicatos de trabalhadores da iniciativa pública e privada que defendem políticas e benefícios anacrônicos.

Escreveu Zeina: “O país não soube administrar os ganhos do ciclo de commodities”, se referindo à primeira década do século, quando o país, sob o governo de Lula, enriqueceu com o aumento do preço de produtos exportados pelo Brasil, como soja, milho e minério de ferro. “Na bonança, não só adiamos reformas estruturais, como queimamos recursos públicos em investimentos fracassados em meio a retrocessos institucionais durante os anos populistas de Lula e Dilma.” A próxima frase também é de Zeina, mas o grifo é meu: “TUDO ISSO COM O APOIO DE MUITOS GRUPOS QUE SE BENEFICIARAM DAS BENESSES DISTRIBUÍDAS E A OMISSÃO DE INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS.”

Prossegue a economista-chefe da XP: “A crise demanda reformas urgentes. No entanto, a elite organizada em grupos de interesse resiste. A defesa de reformas é apenas para as dos outros”.

E finaliza: “Depois reclamamos dos políticos. A culpa das nossas mazelas não está apenas em Brasília. O dinheiro acabou e a sociedade não aceita a volta da inflação ou o aumento de impostos. As reformas são inevitáveis. Entre o avanço e a paralisia, de que lado estará a elite?”

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