Que não fiquem dúvidas: a eleição presidencial argentina será em 27 de outubro, mas Mauricio Macri já a perdeu. O vencedor das primárias realizadas neste final de semana, Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como vice em sua chapa, já se articula para tentar antecipar o pleito e assumir logo a presidência.
Peronista, mas não considerado um populista clássico, Fernández aposta no apoio dos governadores de seu partido para uma transição de poder tranquila. Haverá, no entanto, alguns abalos.
O primeiro é o econômico. Os mercados regiram mal à volta do peronismo e a economia local pode entrar numa espiral negativa se o dólar continuar subindo e puxar os juros ainda mais para o alto. Os resultados na Bolsa de Valores de Buenos Aires responderam de forma catastrófica: ações de grandes empresas e bancos chegaram a cair mais de 50 %. Teme-se, assim, por um cenário ainda mais complicado se o candidato peronista não fizer um pronunciamento oficial acalmando investidores.
O segundo desafio será de ordem diplomática. O alinhamento político entre Jair Bolsonaro e Macri subiu no telhado. O presidente brasileiro já soltou suas farpas em direção aos pampas e Fernández aceitou os parabéns enviados pelo ex-mandatário vizinho, Luiz Inácio Lula da Silva, pela rede social. Empresários analistas, no entanto, acreditam que Fernández pode diluir suas implicâncias com Bolsonaro no início de seu mandato. Mas a pergunta que fica é: o presidente do Brasil irá ficar quieto e não provocar o hermano Fernández? Dificilmente.
Apesar da expectativa negativa, ainda não está claro para os empresários argentinos se o mandato de Alberto Fernández será mesmo este caos desenfreado que os investidores profetizam. Isso dependerá basicamente do papel que os membros do Kirchnerismo desempenharão uma vez no Poder.
Ou seja: Cristina dará as cartas? Se sim, a chance de a economia entrar em colapso é razoável. Mas a política sempre reserva surpresas. Se Fernández for o mandatário de fato, pode imprimir à administração algo além do Peronismo velho de guerra. Afinal, convenhamos: Macri fez tantas concessões que nem de perto poderia ser considerado um liberal. Nesta toada, Fernández pode acenar aos empresários algumas concessões que poderão fazer dele um peronista diferente de todos que já passaram pela Casa Rosada.