Por enquanto só deveríamos supor que foi uma exceção. Um caso raro, um lobo solitário, coisa de maluco com arma na mão. A invasão da festa de aniversário do guarda municipal Marcelo Arruda (imagem), na noite de sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR), terminou com sua morte e ferimentos sérios no perpetrador, o agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho – que inicialmente foi dado como morto. A festa rolava na Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, em celebração aos 50 anos de Arruda, e tinha como tema o PT, com bandeiras e cartazes do ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A vítima era filiada ao partido, tesoureiro do partido e foi candidata a vice-prefeito de Foz do Iguaçu em 2020.
Bolsonarista juramentado, Guaranho não gostou do que viu sabe-se lá por qual razão ainda a ser investigada. Sem conhecer ninguém, entrou na sala atirando. Alvejou Arruda e foi atingido de volta – pois a vítima buscou sua arma no carro. Antes da troca de tiros, ele invadiu o local e xingou os participantes, gritando “Aqui é Bolsonaro!” – como era uma festa de família, eleitores do atual presidente também estavam lá. No carro, deixou sua esposa e seu filho de colo. Ela poderá esclarecer parte das motivações para o ataque insano.
Coveiro
Esse foi o ponto mais baixo, doentio e criminoso da polarização política que assola o Brasil. E pode ser o início de coisas piores. A atual campanha política contava apenas com episódios de lançamento de fezes – o que aliás já é ruim. O discurso da luta entre o bem e o mal que ambos os candidatos apresentam em diferentes dosagens – mais Bolsonaro – é assimilado sem filtros metafóricos por gente envenenada ao longo de anos de trocas de ofensas, fake news, teorias da conspiração e parcialismos.
Não é desse jeito doentio que se vive a política no cotidiano em uma democracia plena. Assim como esfaquear um candidato, como ocorreu com Bolsonaro em 2018. No mesmo ano, um ônibus com uma comitiva do PT, incluindo Lula, foi alvejado no Paraná. A impressão é que os principais partidos e seus militantes desaprenderam o que é o pleno exercício da cidadania e do convívio com ideias diversas. Afinal, Bolsonaro faz de tempos em tempos seu morde e assopra atacando a Justiça Eleitoral, duvidando das urnas que receberam seus votos, incitando e incitando. O presidente não é responsável direto por nada que ocorreu, mas deveria se pronunciar de modo civilizado (confira o post), em vez de praticamente atacar as vítimas. É obrigação das figuras políticas do mais alto escalão um posicionamento civilizatório nestas horas. Bolsonaro praticamente afirmou que não é coveiro.