Vamos imaginar uma cena: o ano é 2017 e o juiz Sérgio Moro, no âmbito da operação Lava-Jato, topa com o caso de um assessor parlamentar que movimentou, de forma suspeita, R$ 1,2 milhão. O caso, registrado pelo Coaf, é levado ao Ministério Público, que intima o suspeito a se explicar. Ele falta a dois compromissos marcados pelas autoridades. Mas concede entrevista a uma emissora de TV, na qual explica que o dinheiro que passou por sua conta veio da compra e venda de automóveis. Perguntado sobre a ausência nos compromissos marcados pelo Ministério Público, alega ter sido internado com problemas de saúde. Mas não revela o nome do hospital onde ficou. O juiz Moro, diante de uma situação como estas, seguramente colocaria o tal assessor parlamentar atrás das grades. A partir de 1º de janeiro, Sérgio Moro — agora no papel de ministro da Justiça — terá a oportunidade de enfrentar esta situação hipotética. Empossado no cargo, poderá analisar profundamente o caso de Fabrício Queiroz, ex- assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, que é investigado pelo MP após ter caído na malha fina do Coaf. O dilema de Moro, agora, ganha contornos definidos. Se agir como nos tempos da Lava-Jato, pode ferir seriamente o governo Bolsonaro, que ainda nem começou. Se fizer vistas grossas, será acusado de usar dois pesos e duas medidas. Portanto, a pergunta que fica é: daqui para frente, Moro vai vestir a toga de juiz ou a camisa do governo Jair Bolsonaro?