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O que levou a Bolívia a uma tentativa de golpe

Crise resultou na demissão do comandante das forças armadas, o que disparou a aventura. General Zúñiga é contra uma nova candidatura de Evo Morales, mas é repelido

Blindados e tropas invadiram na tarde desta quarta-feira (26) o palácio presidencial da Bolívia, em La Paz, em um tentativa de golpe militar. O presidente, Luis Arce, denunciou “mobilizações irregulares”, enquanto o ex-presidente, Evo Morales, citou nas redes a tentativa de “golpe de Estado”. Militares se instalaram em prédios do governo a fim de consolidar suas posições, assim como nas ruas e rodovias, mas a população aos poucos começou uma mobilização pacífica que não foi reprimida. Na terça-feira (25), o ex-comandante do exército boliviano, general Juan José Zúñiga (abaixo), foi destituído do cargo após um embate com o governo.

A crise foi criada desde que Zúñiga se posicionou contra uma nova candidatura do esquerdista Evo Morales, que já ocupou democraticamente a presidência por três vezes consecutivas (2009-2019). Antes de perder o cargo, o militar chegou a afirmar que se fosse do Poder Judiciário e Eleitoral impediria o ex-presidente. Ele disse que não permitiria “aqueles que atropelam a Constituição, aqueles que desobedecem ao mandato do povo”, se referindo a Morales, que está inelegível, mas tenta voltar.

Diante das críticas de Zúñiga, Morales pressionou Arce: “O tipo de ameaças feitas pelo Comandante Geral do Exército, Juan José Zúñiga, nunca ocorreram em democracia. Se não forem desautorizadas pelo Comandante em Chefe das Forças Armadas, Ministro da Defesa, Presidente e Capitão General das Forças Armadas, ficará comprovado que o que estão realmente organizando é um autogolpe”, escreveu Morales no X (Twitter), na terça. Ao que obteve resultado.

Arce e Morales não são próximos, mas se colocam contra o golpe, junto com o direitista Luis Camacho e o também ex-presidente Carlos Mesa . O atual presidente foi ministro da economia de Morales em duas ocasiões, mas mantém um perfil mais discreto e levemente conservador em relação ao populismo de esquerda estatizante de Morales. Ambos trocavam farpas, com Arce afirmando que Morales tentaria encurtar seu mandato. Agora tudo perdeu o sentido diante de um risco maior. Os problemas econômicos do país ficaram em último plano.

Tropa de choque

Assim que a operação começou, um blindado sobre rodas foi filmado rompendo as portas do Palacio Quemado, na Plaza Murillo, indicando que não se trataria apenas de uma quartelada de descontentes.

Pouco depois diante das câmeras de TV, Zúñiga afirmou que haveria uma troca de gabinete. Ele disse que “por enquanto” reconhecia o presidente Arce como chefe das forças armadas, apesar de desobedecer as ordens de desmobilização. “Os três chefes das Forças Armadas viemos expressar nossa discordância. Vai haver um novo gabinete de ministros, com certeza as coisas vão mudar, mas nosso país não pode continuar desse jeito”, disse Zúñiga à imprensa local, colocando seus colegas de farda na jogada.

Pela manhã, unidades foram vistas agrupadas em praças e ruas de La Paz, pouco antes a polícia do exército (tropas de choque) afastarem os civis das redondezas e posicionarem atiradores. De acordo com Evo Morales, a principal tropa envolvida é o Grupo del Regimiento Especial de Challapata “Mendez Arcos”, treinado para ações de choque e invasão.

Arce chegou a ficar diante do general golpista ordenando publicamente que as tropas voltassem à caserna. Apesar da desobediência, ninguém tentou deter o chefe do executivo. Pouco depois, em um pronunciamento em rede nacional de TV a partir da residência oficial, Arce disse que os militares envolvidos “estão manchando seus uniformes”. A suprema corte do país comunicou que “expressa o mais enérgico repúdio” contra o golpe e pede apoio à democracia. A Central Operária Boliviana, a maior do país, anunciou uma greve geral caso o movimento ilegal continuar.

Críticas

O governo brasileiro emitiu um nota condenando a tentativa de golpe, rechaçando “essa grave violação da ordem institucional na Bolívia”. O governo dos Estados Unidos disse estar monitorando de perto a situação. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luís Almagro, condenou a revolta, dizendo que a exército “deve se submeter ao controle civil legitimamente eleito”. A seguir, vieram as condenações dos presidentes do Paraguai, Santiago Peña, do Chile, Gabriel Borić, e do México, Manuel López Obrador. O mesmo fez a presidente da União Europeia, Ursula von de Leyen.  

Antes de tramar o golpe, o momento de maior notoriedade de Zúñiga foi uma suspeita de envolvimento no desvio de 2,7 milhões de pesos bolivianos (cerca de R$ 1,76 milhões). Ele é o militar de mais alta patente do país e um dos mais envolvidos em questões políticas, mesmo não sendo um figura popular entre a tropa.

Blindado rompendo o portão do Palacio Quemado

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