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O teto da esquerda: Lula, Boulos e Haddad

Pela primeira vez em muitos anos, o distrito eleitoral de Parelheiros não teve como vencedor um candidato de esquerda nas eleições municipais em São Paulo. Em 2012, por exemplo, Fernando Haddad conquistou a maioria dos votos por lá. Quatro anos depois, foi a vez de Marta Suplicy. Em 2020, Guilherme Boulos derrotou Bruno Covas nesta região. Mas, em 2024, o prefeito Ricardo Nunes chegou na frente de Boulos em Parelheiros, a última fronteira da Zona Sul na capital paulista e o terceiro maior distrito da cidade em população, com 211.000 eleitores cadastrados.

O candidato do PSOL ganhou em apenas 3 das grandes zonas eleitorais paulistanas: Piraporinha (a maior do município), Valo Velho e Bela Vista. O prefeito Nunes triunfou nas demais, com quase 60% dos votos válidos. Boulos ficou praticamente no mesmo patamar obtido em 2020, quando seu orçamento foi uma fração de suas despesas de campanha de 2024.

Isso mostra que Boulos não seria um candidato ideal ao governo de São Paulo, como alguns analistas apontaram. O psolista tem um teto aparente de 40% dos votos válidos na capital. Só que os eleitores paulistanos representam cerca de 30% do total do estado, cujo interior é tradicionalmente conservador. A chance de Boulos ser eleito governador, assim, é próxima a zero.

Fernando Haddad parece ser uma alternativa para o pleito estadual de 2026. Seu desempenho à frente do MInistério da Fazenda mostra que ele não é radical como Boulos e poderia ter um resultado melhor que o de uma eventual candidatura do PSOL. Mas ele lidaria com o mesmo problema que Boulos: o interior do estado iria votar contra uma candidatura esquerdista, mesmo moderada.

Se a esquerda está em baixa em São Paulo, no restante do Brasil temos um fenômeno semelhante? As eleições municipais mostraram que sim. O número de prefeituras comandadas por políticos de esquerda (eram 25%) caiu quase pela metade.

Essa estatística é um sinal de que as chances de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva podem diminuir? Lula vai ter de lidar com um índice de desaprovação que cresceu de forma devagar e firme nos últimos dois anos. Neste ano, sua aprovação está muito próxima da rejeição, o que pode sinalizar um teto nas intenções de voto. Será esse teto grande o suficiente para provocar uma derrota? Ainda é cedo para responder a esta pergunta. Mas todos os sinais de alarme soaram no Palácio do Planalto desde o primeiro turno — e dispararam de vez após os resultados da segunda etapa das eleições.

É preciso ponderar, no entanto, que o Lulismo não é necessariamente a mesma coisa que o petismo. Desta forma, o presidente pode ter um desempenho eleitoral até melhor que o da esquerda nos pleitos de outubro. Mas sofrerá inevitavelmente com o desgaste que a esquerda experimentou em 2024.

O fato é que a esquerda não está entendendo o eleitorado, insistindo em temas que não têm forte apelo popular, como pautas de comportamento que batem de frente contra o conservadorismo. Além disso, a escolha de candidatos com perfil mais radical, como o próprio Boulos ou a deputada Maria do Rosário em Porto Alegre, foi crucial para explicar a derrota esquerdista neste pleito.

Em meio ao fracasso, no entanto, surge uma oportunidade política para petistas e psolistas.  Há um contingente enorme de eleitores que estão desamparados e não encontram sintonia nos candidatos. Em São Paulo, por exemplo, o total de abstenções chegou a 31,5% do eleitorado local (2,9 milhões de sufrágios). É mais do que Guilherme Boulos obteve nas urnas.

É bem verdade que essa oportunidade não se abre apenas para a esquerda. Mas os derrotados geralmente costumam, depois de uma autocrítica, buscar mecanismos para se reerguer. E uma forma de sacudir a poeira e dar a volta por cima é justamente tentar compreender o que se passa na cabeça desse eleitor que não quis votar em nenhum dos candidatos disponíveis no segundo turno.

Se Lula entender o que motivou esses eleitores a não comparecerem às urnas, poderá ter alguma chance daqui a dois anos. Mas, pelo andar da carruagem, ele deverá se manter fiel ao discurso antiquado de querer colocar empregados contra patrões – em um mundo no qual, cada vez mais, os empregados querer virar patrões.

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