O valor de uma democracia deveria ser um ponto pacificado em uma sociedade desenvolvida e madura, como a dos Estados Unidos, onde nasceu o republicanismo e as eleições de massa. Porém, após a tentativa golpista de apoiadores do presidente Donald Trump de tomar o Capitólio e impedir a ratificação da vitória do democrata Joe Biden, na quinta-feira (6), fica a clara impressão que o país adentrou no território da instabilidade institucional, uma condição relativamente comum nas Américas do Sul e Central.

Assim, se por enquanto quisermos falar de democracia plena, madura e estável, é preciso olhar para o Canadá, ao norte, e ao Uruguai, ao sul. Ambos os países se destacam como modelos bem mais que os EUA. Vale lembrar que o Uruguai é uma democracia presidencialista e o Canadá adota o sistema parlamentarista, mas o que interessa é como as forças locais lidam com o sistema representativo, sempre buscando o entendimento, ainda que com discordâncias.
No Brasil, enquanto o presidente Jair Bolsonaro parece endossar atitudes de autogolpe, insinuando algo parecido com o que ocorreu em Washington para 2022, o presidente uruguaio de direita, Luis Lacalle Pou, repudiou em seu Twitter o ocorrido. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, também, lamentou o episódio. “Em termos gerais, estamos bem, mas o Uruguai está bem porque é um país crítico, porque o inconformismo é uma tradição. E não podemos ficar satisfeitos com a situação de segurança, educação e trabalho.”, afirmou o cientista político uruguaio, Adolfo Garcé à BBC Brasil em 2019.
Manifestamos nuestro más profundo rechazo ante los hechos de violencia ocurridos en el día de hoy en Congreso de los Estados Unidos, confiando en que los valores democráticos de esa nación prevalecerán frente a cualquier intento de menoscabar sus instituciones.
— Luis Lacalle Pou (@LuisLacallePou) January 7, 2021
Canadians are deeply disturbed and saddened by the attack on democracy in the United States, our closest ally and neighbour. Violence will never succeed in overruling the will of the people. Democracy in the US must be upheld – and it will be.
— Justin Trudeau (@JustinTrudeau) January 6, 2021
O índice que analisa a situação política de 167 países da revista britânica The Economist apontou, em 2019, que o Canadá ocupa o 8º lugar como “democracia plena” e o Uruguai, o 15º (a classificação mais alta na América do Sul). A publicação avalia cinco critérios: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis. O Brasil ocupa o 52° lugar, sendo considerado uma “democracia imperfeita”. Curiosamente, os EUA estavam em 25°, também como imperfeitos, uma classificação que deve sofrer um rebaixamento. Noruega, Islândia e Suécia ocupam as três primeiras posições do ranking, respectivamente.