Num passado recente, com a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, os chamados isentões eram uma espécie em extinção. Esta categoria era composta de pessoas que não simpatizavam com o Partido dos Trabalhadores, mas tampouco eram seguidores de Bolsonaro. Tentavam dar opiniões isentas nas redes sociais e eram massacrados pelos chamados “bolsominions”. De tanto apanhar, ficaram quietos.
Nesta semana, no entanto, os grampos divulgados entre Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros integrantes da Operação Lava-Jato trouxe munição para a volta destes isentões. A questão levantada pelos entusiastas da opinião com neutralidade política é: um juiz poderia trocar mensagens com os promotores do caso?
Em tese, um juiz deve ser neutro e julgar processos de acordo com as provas que lhe são apresentadas pela polícia e pelo Ministério Público. Ao trocar ideias num grupo de mensagens sobre a melhor estratégia de investigação, a isenção teoricamente deixa de existir.
A mesma isenção que, diga-se, é a base de todo o sistema legal. Sem ela, o Judiciário fica em ruínas. Ao minimizarmos este episódio, estaremos acreditando que os fins justificam os meios. E, assim, correremos o risco de cada juiz decidir, da própria cabeça, os destinos de pessoas, de empresas e mesmo de assuntos que interferem na condução do nosso país.