Nesta semana, participei de um seminário chamado “A Ética e a Saúde”, com Dan Airely, professor da Duke University e ex-titular do MIT (Massachusetts Institute od Technology), promovido pela ICTS Protivity. Airely, um psicólogo que se intitula cientista social, usou uma parte de sua palestra para falar de seus experimentos relacionados à ética.
Num deles, colocou uma máquina de venda automática de guloseimas – as famosas “vending machines” – num local de alta circulação de pessoas. Os itens à venda custavam um dólar, só que a máquina estava programada para entregar os doces ou salgados escolhidos e devolver o dinheiro ao comprador. Bem à frente do display, com destaque, estava um aviso que pedia ao consumidor que ligasse para um determinado número caso verificasse algo de errado com o funcionamento da engenhoca. Detalhe: o telefone do aviso era o celular de Ariely. Nas três semanas em que o experimento durou, quantas vezes o celular do professor foi acionado? Nenhuma.
A experiência de Ariely mostra que a ética é um conceito que dificilmente é adotado integralmente pelas pessoas. E que desaparece quando se trata de pequenos delitos. À plateia, por exemplo, perguntou quantos já tinham dito que haviam se atrasado por conta do trânsito – quando na verdade a culpa do atraso era outra qualquer. Todos levantaram a mão.
Seus trabalhos usam pessoas como objeto de pesquisa. Esses indivíduos são colocados em situação nas quais podem ter uma compensação financeira ao final. E trapacear é permitido. O resultado é desanimador: a maioria trapaceia.
Não demorou para que o professor discutisse um pouco os motivos das mentiras e das trapaças. E afirmou que uma das maiores justificativas para uma mentira ou um ato que fere a ética é trabalhar pelo bem comum. Ou seja, a pessoa mente, mas justifica isso para ela mesmo como um ato de, digamos, patriotismo, defesa da família, proteção de valores morais. É o que ele chama de “altruistic cheating”, que vou chamar de “trapaça altruísta”.
Para Ariely, os políticos praticam este tipo de ardil com frequência. É a forma que encontram para criar uma justificativa para seus atos. O problema é que muitos políticos começam mentindo por boas razões. No entanto, depois que lacre da ética é quebrado, as mentiras começam a brotar pelas razões erradas também.
Qualquer semelhança com a cena política brasileira não será coincidência.