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Os vários disfarces do socialismo

O problema não reside na sedução ideológica puro e simples, mas no abandono dos ideais que fizeram as sociedades civilizadas progredir

Em seu livro Socialismo, Ludwig von Mises alerta sobre a ameaça que o socialismo representa para a coexistência pacífica e para a civilização ocidental. Ele ressalta as “guerras e revoluções desastrosas, assassinatos em massa hediondos e as catástrofes assustadoras” que foram causadas pelas políticas socialistas, um alerta que também foi feito por Friedrich von Hayek, em O Caminho da Servidão.

Mises vai além de alertar sobre a natureza destrutiva do socialismo, indo adiante para chamar a atenção para o que ele considera “a questão principal”, que ele descreve como “a luta desesperada dos amantes da liberdade, prosperidade e civilização contra a maré crescente da barbárie totalitária”. O socialismo é destrutivo por si só, mas, mais do que isso, ele alimenta a “maré crescente da barbárie totalitária” por meio de seus muitos disfarces. Há uma crença persistente de que o socialismo é um ideal que vale a pena ser perseguido se pudermos apenas descobrir a forma correta que ele deve assumir. Parte do objetivo de Mises em Socialismo é explicar os perigos do socialismo e ajudar os leitores a reconhecer o socialismo quando o virem.

Entre seus muitos disfarces, o socialismo se encobre com o manto de ideais que muitas pessoas valorizam, como os ideais de justiça e igualdade perante a lei. Falando sobre o antropomorfismo que atribui “justiça” à distribuição de riqueza resultante das interações de mercado, Hayek, em seu ensaio “Justiça ‘Social’ ou Distributiva” [“Social” or “Distributive” Justice, no título original do ensaio], adverte:

“Acredito que a chamada ‘justiça social’ acabará sendo reconhecida como uma ilusão enganosa, que levou as pessoas a abandonarem muitos dos valores que, no passado, foram fundamentais para o desenvolvimento da civilização.”

Assim, o problema não é apenas que muitas pessoas são seduzidas pelo socialismo, mas que isso as leva a abandonar os ideais que as sociedades civilizadas antes valorizavam. Como Hayek escreve em “As Origens e Efeitos de Nossa Moral” [The Origins and Effects of Our Morals, no título original do ensaio]:

“Não é exagero dizer que o objetivo central do socialismo é desacreditar a moral tradicional que nos mantém vivos.”

Os princípios morais tradicionais aos quais ele se refere, como o conceito de honestidade, estão ligados aos valores culturais do liberalismo clássico, que hoje estão sob ameaça: liberdade de contrato, liberdade de associação, liberdade de expressão e o direito à propriedade privada. Ao enfraquecer esses ideais, o socialismo mina as próprias bases da civilização.

No contexto atual, a principal máscara do socialismo é o ideal de igualdade. Thomas Sowell descreve os princípios do socialismo como uma “igualdade de faz de conta” – a ideia de que devemos criar leis e políticas para garantir que sejamos, de fato, todos iguais. No entanto, como Murray Rothbard explica em “Igualitarismo como uma Revolta contra a Natureza” [Egalitarianism as a Revolt Against Nature, no título original], buscar tornar todas as pessoas realmente iguais seria um objetivo sinistro e procrusteano. Como Sowell disse de forma célebre: “Ninguém é igual a nada. Até o mesmo homem não é igual a si mesmo em dias diferentes.” Ainda assim, o conceito de “igualdade” serve hoje de disfarce para muitas políticas socialistas. O exemplo mais notório é a agenda de “Diversidade, Equidade e Inclusão” (DEI). O DEI se baseia em teorias de polilogismo racial, que são formuladas com referência a conceitos explicitamente marxistas. De fato, essa é uma das principais formas pelas quais os ideais marxistas se espalham atualmente – sendo incorporados às bases intelectuais da mais recente versão do socialismo.

As bases marxistas do DEI

No livro Socialismo, Mises observa que as doutrinas centrais do marxismo são amplamente aceitas e usadas como base para todos os tipos de ideologias socialistas. Mises explica: “Em nenhum momento da história uma doutrina encontrou aceitação tão imediata e completa como a contida no [marxismo]. A magnitude e a persistência de seu sucesso são comumente subestimadas. Isso se deve ao hábito de aplicar o termo marxista exclusivamente a membros formais de um ou outro dos partidos autodenominados marxistas, que se comprometem a defender, palavra por palavra, as doutrinas de Marx e Engels”, ao mesmo tempo em que se ignora a extensão em que suas principais construções foram usadas como base para políticas de “igualdade”.

As políticas de igualdade geralmente substituem a noção de conflito racial pelas noções marxistas de conflito de classes e disfarçam suas raízes marxistas adotando palavras como “diversidade, equidade e inclusão” ou a nova terminologia de “comunidade, oportunidade e pertencimento”. Para ilustrar a influência do pensamento marxista nos debates sobre igualdade racial, um bom exemplo é uma das doutrinas do marxismo descritas por Mises:

“[O marxismo] negou que a lógica seja universalmente válida para toda a humanidade e para todas as épocas (…) O pensamento, segundo ele, era determinado pela classe dos pensadores; era de fato uma ‘superestrutura ideológica’ de seus interesses de classe. O tipo de raciocínio que havia refutado a ideia socialista foi ‘revelado’ como raciocínio ‘burguês’, uma defesa do capitalismo.”

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, as teorias críticas da raça negam que a lógica seja universalmente válida para todas as raças. Elas substituem a noção de “classe” por “raça”, transferindo diretamente as preocupações raciais para as preocupações de classe no marxismo. Elas argumentam que qualquer coisa escrita por pessoas brancas reflete “interesses brancos”, baseia-se em um “raciocínio branco” e, na verdade, é uma justificativa para o colonialismo.

Da mesma forma que o marxismo afirma que a “classe determina o pensamento”, essas teorias defendem que a raça determina o pensamento. Dizem que a economia é “branca” porque foi “criada” por economistas brancos e, por isso, economistas negros como Thomas Sowell ou Walter E. Williams estariam apenas refletindo uma economia “branca” e, portanto, deveriam ser ignorados pelos leitores negros. O argumento é que a economia se baseia em um raciocínio “racista” que deixa de ser aplicável quando minorias raciais ou seus “aliados antirracistas” estão no comando. Qualquer contra-argumento pode, convenientemente, ser descartado como uma manifestação de “branquitude”. Disso decorre que, assim como no marxismo os interesses da classe trabalhadora jamais podem ser conciliados com os da burguesia, os interesses de brancos e negros também nunca poderiam ser unificados.

Ao pensar em estratégias para desmascarar os muitos disfarces do socialismo, devemos ter em mente o alerta de Mises de que não podemos combater o socialismo adotando os mesmos dogmas dos socialistas. Fazer isso significa cair na armadilha socialista. Um bom exemplo dessa armadilha é tentar desafiar a agenda DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) simplesmente propondo uma versão “melhorada” dela, ou então se opor ao princípio da não discriminação sugerindo novas ou mais refinadas justificativas para aplicá-lo.

Por exemplo, alguns opositores do DEI argumentam que é errado obrigar um empregador a contratar alguém com base na raça, então sua solução é forçá-lo a contratar com base no mérito. Eles não percebem que, em ambos os casos, está sendo invocado o uso da força contra o empregador — ou talvez pensem que, já que não podemos escapar completamente do uso da força estatal, o melhor seria direcioná-la para um propósito mais meritório. Esquecem, no entanto, o princípio da não agressão, que estabelece que o uso da força estatal é errado. Por mais inalcançável que esse ideal possa parecer hoje, especialmente à medida que o aparato estatal continua a crescer, ele ainda deve ser lembrado como a meta pela qual, como disse Mises, os “amantes da liberdade, da prosperidade e da civilização” devem sempre lutar.

Murray Rothbard também aborda essa questão no livro Por uma Nova Liberdade, o Manifesto Libertário [For a New Liberty, no título original]. Ele pergunta: “Como podemos ir de onde estamos agora, em um mundo imperfeito e dominado pelo Estado, até o grande objetivo da liberdade?”

Rothbard discute as estratégias adotadas pelos marxistas, não porque concorde com seus objetivos, mas porque “eles têm pensado sobre estratégias para mudanças sociais radicais há mais tempo do que qualquer outro grupo”. Quando uma ideologia se torna tão onipresente quanto o socialismo é hoje, ela não pode ser combatida sem uma consideração séria sobre as implicações de longo prazo das políticas adotadas no presente.

Isso geralmente é ignorado na empolgação geral de que poderemos – finalmente – ver em breve o fim da DEI. Há uma tendência de supor que, se a tirania do Estado tiver que ser usada para se livrar do terrível DEI, que assim seja. Mas o fim do DEI não é o objetivo final – acabar com ele é apenas um passo importante rumo ao verdadeiro objetivo: a liberdade. Rothbard argumenta que, embora existam programas graduais e “práticos” que tenham boas chances de serem implementados de imediato, há um grande perigo em perder completamente de vista o objetivo final: a liberdade. No contexto dos debates sobre o DEI, a verdadeira defesa da liberdade passa pela proteção da liberdade de expressão, da liberdade de contrato, da liberdade de associação e do direito à propriedade privada.

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Por Wanjiru Njoya

Publicado originalmente em: https://encurtador.com.br/PhDjF

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