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Para aqueles que “não ouviram e não gostaram” do discurso de Bolsonaro

Quando perguntado sobre o que achara do último romance do escritor José Lins do Rego, o modernista Oswald de Andrade disparou: “Não li e não gostei”. A frase, proferida num momento do século 20 em que os jovens autores se contrapunham ao estilo rebuscado dos representantes da escrita tradicional, como Lins do Rego, ficou muito tempo restrita ao mundo da literatura.

Depois do discurso do presidente Jair Bolsonaro – de quem Andrade não seria fã – em Davos, é possível criar uma adaptação para a máxima proferida pelo autor de “O Rei da Vela”: “Não ouvi e não gostei”. É o que se pode concluir após ler algumas reações de parte da imprensa.

Antes de mais nada, Bolsonaro deveria ter se preparado melhor para a primeira aparição internacional que fazia como presidente eleito. Nervoso, fora de tom e desconfortável, fez uma leitura protocolar, representando mal o Brasil diante da comunidade financeira mundial. Espera-se que ele se renda à recomendação de contratar um profissional de comunicação para melhorar seu desempenho neste tipo de situação.

O conteúdo do discurso? Tirando questões que saíram da campanha e que nada têm a ver com os investidores internacionais, o speech – do ponto de vista econômico – marcou um contraponto a 14 anos de gestão petista. Temas relativos ao ambiente de negócios foram mencionados. A agenda liberal entrou na pauta. E foi dito que haveria o compromisso de colocar o Brasil entre os 50 melhores países para se fazer negócios. Ou seja, para os investidores globais, boas notícias.

Poderia ter sido melhor? Sim. Um tom correto e um semblante sereno e confiante ajudariam muito. Mas, paciência. Fica para a próxima.

A repercussão do discurso na imprensa internacional foi diversa. Houve quem ficou indiferente, quem gostou e quem detestou. Aqueles que não gostaram, contudo, já sabiam disso antes mesmo de Bolsonaro abrir a boca – na linha oswaldiana do“não ouvi e não gostei”. Um veículo internacional chegou ao cúmulo de editar uma reportagem neutra em sua edição local e, na brasileira, bater na performance presidencial. Detalhe: as duas matérias foram assinadas pela mesma repórter. O trabalho do editor brasileiro transformou a jornalista numa profissional de dupla personalidade.

Outras manifestações negativas pipocaram entre Europa e Estados Unidos. Todas já estavam pré-escritas na cabeças de seus autores. O Brasil terá de conviver com essa má-vontade da imprensa internacional ainda por um tempo. Mas há o outro lado: Paulo Guedes pode virar este jogo e entusiasmar as plateias globais de agora em diante. Seu discurso e suas medidas são música para os ouvidos de quem decide os investimentos na praça global.

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