Sob comando de Augusto Heleno, pressão contra investigadores incluía ameaças de prisão por “ordens ilegais”
A Polícia Federal (PF) revelou no relatório final sobre a tentativa de golpe que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sob o comando do general da reserva Augusto Heleno, teria articulado um plano para intimidar delegados que conduziam investigações relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A estratégia envolvia pressionar os investigadores com alegações de que poderiam ser presos por cumprir “ordens ilegais”.
No relatório de 884 páginas aponta em alguns trechos que a tática foi parte de uma tentativa mais ampla de planejar um golpe de Estado. Anotações encontradas em documentos de Heleno descrevem um esquema para criar um “novo ordenamento jurídico” que subordinaria a autonomia da PF à Advocacia-Geral da União (AGU) – hoje é a PF é autônoma e formalmente subordinada ao Ministério da Justiça. Neste cenário, a AGU teria poderes para revisar decisões judiciais antes de serem cumpridas pela polícia, o que é impossível hoje, já a instituição tem a função de representar, fiscalizar e fazer controles jurídicos da União e da República Federativa do Brasil, além de fazer consultoria aos agente estatais e proteger patrimônios públicos contra terceiros e ocupantes do governo .
Ameaças e coação a delegados
Desde 2024, delegados envolvidos em inquéritos relacionados a Bolsonaro enfrentaram ameaças e campanhas de difamação. Investigadores e seus familiares foram alvo de ataques em redes sociais, promovidos por aliados do ex-presidente. Em alguns casos, houve tentativas de suborno e ameaças de morte, como relatado pela delegada Denisse Ribeiro, que recebeu mensagens associando-a a figuras históricas como o nazista Adolf Eichmann.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) também teria contribuído para os ataques, compartilhando listas com nomes de policiais federais e acusando-os de cumprir “ordens ilegais”. No entanto, ele nega qualquer intenção de intimidação e afirma que suas postagens são críticas à atuação de agentes públicos.
Heleno e Ramagem no centro do esquema
Além de Heleno, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, também teria participado do plano para deslegitimar o trabalho da PF e minar investigações ligadas ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas. O relatório descreve um esforço coordenado para enfraquecer o poder das instituições de fiscalização e investigação, protegendo aliados políticos.
A PF concluiu que as ações planejadas tinham como objetivo assegurar a permanência de Bolsonaro no poder, mesmo diante de ordens judiciais contrárias. Tanto Heleno quanto Ramagem, juntamente com Bolsonaro e outros 34 nomes, foram indiciados por envolvimento no planejamento do golpe de estado.
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