De olho na transferência do caso à Justiça Federal de Guarulhos, ex-presidente, esposa e assessores optaram pelo silêncio na hora de depor
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ficaram em silêncio durante os depoimentos que deveriam prestar à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (31). Segundo os advogados Paulo Cunha Amador e Daniel Tesser, o casal Bolsonaro só prestará esclarecimentos quando o caso da venda de joias no exterior for submetido à primeira instância.
A PF adotou um esquema de oitivas simultâneas para evitar que os depoentes combinassem versões. além do ex-primeiro casal da república, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, optou por uma estratégia diversa do ex-mandatário, respondendo aos questionamentos dos delegados.
O ex-secretário-executivo do Ministério das Comunicações e ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social Fabio Wajngarten e o ex-assessor Marcelo Câmara também ficaram em silêncio durante seus depoimentos. O advogado de ambos, Eduardo Kuntz, afirmou que eles só prestarão esclarecimentos à autoridade judicial competente, seguindo a mesma tática de Amador e Tesser. Também prestaram depoimento Frederick Wassef, ex-advogado da família Bolsonaro, o general da reserva Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, e o ex-assessor Osmar Crivellati.
As investigações sobre o esquema de vendas de joias recebidas por Bolsonaro em compromissos oficiais é conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No documento apresentado pela defesa de Bolsonaro é solicitado que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste pelo “declínio da competência” sobre o caso, remetendo os autos para a 6ª Vara Federal de Guarulhos (SP).
Desde 1º de janeiro, quando deixou o Palácio do Planalto, Bolsonaro não detém mais foro privilegiado. Com isso, os processos criminais contra ele deveriam tramitar na primeira instância, a não ser que a ação envolva outras pessoas com prerrogativa de foro – o que não é de conhecimento público. Como a existência das joias e dos relógios se deu no aeroporto internacional de Guarulhos, seria para lá que o caso deveria ir.
A PF investiga se houve tentativa de venda dos presentes entregues a Bolsonaro por delegações estrangeiras. Relógios, joias e esculturas foram negociados nos Estados Unidos. O suposto esquema seria comandado por Cid e Crivelatti. Em nota, a defesa de Bolsonaro negou que o ex-presidente tenha desviado ou se apropriado de bens públicos e afirmou que a movimentação bancária do ex-chefe do Executivo está à disposição da Justiça.