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Por que Doria está recebendo críticas?

Desde 2018, o governador João Doria percebeu que fazer campanha em cima do muro não dá certo nesses tempos regidos pelo antagonismo criado nas redes sociais. Neste aspecto, Doria é o oposto daquele que o lançou na vida pública, o ex-governador Geraldo Alckmin. Discreto, avesso a polêmicas e dono de uma frieza típica dos médicos, Alckmin recebeu, durante muitos anos, a alcunha de “picolé de chuchu” por sempre colocar panos quentes em disputas políticas. Seu sucessor age de forma diametralmente oposta: está sempre no centro das atenções, não evita brigas (já se estranhou com o presidente Jair Bolsonaro e com o senador Major Olímpio) e gosta de apimentar o debate em torno do poder.

Não tenho nenhuma pesquisa para mostrar, mas percebo em conversas com vários amigos e empresários que há um clima negativo rondando o governador. Não é um movimento unânime. Pelo contrário. Há diversas vozes de defesa. Mas trata-se de um processo em crescimento. No início do isolamento social, porém, havia poucas críticas e um número bem maior de elogios.

O primeiro sinal negativo surgiu quando, ao final de março, Doria brigou com o presidente Jair Bolsonaro em reunião virtual que reunia os líderes dos estados da região Sudeste. “O senhor, como presidente da República, tem que dar o exemplo. Tem que ser o mandatário para comandar, para dirigir, para liderar o país e não para dividir”, afirmou o governador. Foi a deixa para que a tropa bolsonarista de choque digital começasse a bater em Doria nas redes sociais. A relação entre os dois, estremecida há muito, azedou de vez.

Em seguida, veio uma atitude cheia de controvérsia, de autoria do próprio ocupante do Palácio dos Bandeirantes. Pelas redes sociais, o governador publicou uma mensagem de aceno a Luiz Inácio Lula da Silva. Houve uma revoada de mau humor por parte de seus eleitores, majoritariamente de direita. Uns interpretaram a lógica do governador como a vontade de se mostrar um estadista, botando as diferenças políticas de lado em função de um bem maior, que seria o de combater o coronavírus. Outros viram nesse movimento uma porta aberta a uma possível apoio num eventual segundo turno em 2022 contra o presidente. Qualquer que tenha sido o motivo de Doria, o eleitor médio não ficou feliz com a iniciativa – e essa insatisfação chegou mesmo àqueles que estão na órbita íntima do governador.

Conforme Bolsonaro defendia, de seu modo, a reabertura da economia, mais Doria batia na tecla oposta, decidindo partir para o confronto direto. O intuito, aqui, parece ser claro: fortalecer sua imagem como antagonista do mandatário. Neste ponto, João Doria distanciou-se de vez do perfil tradicional dos tucanos de primeira grandeza e colocou-se no ringue para brigar. Também se expôs para receber sopapos via internet. Nas últimas duas semanas, contudo, os apupos saíram do ambiente virtual para o físico. Carreatas de paulistanos furiosos com o fechamento do comércio buzinaram pela cidade e gritaram palavras de ordem contra o governador.

No afã de defender suas convicções, especialmente a decisão de estender a quarentena até o dia 11 de maio, Doria não mostrou muita empatia com aqueles afetados pela desaceleração econômica – um grupo que não é necessariamente formado de forma exclusiva por fãs de Bolsonaro. Ao desagradar esses eleitores, Doria também viu a insatisfação junto ao seu nome crescer.

Por fim, o governador fez questão de ser a estrela de todas as entrevistas coletivas do governo estadual que divulgavam os resultados do coronavírus, tomando para si inclusive o papel de mestre de cerimônias. Essa superexposição também elevou a temperatura do ringue político.

Não são, assim, poucos os motivos que trouxeram desgaste à imagem do ex-presidente do LIDE.

No entanto, nos últimos dias, houve uma mudança de rota, ainda que tímida.  Doria, talvez percebendo alguma hostilidade por parte do eleitorado, resolveu divulgar que o Estado teria um plano para reabrir a economia. Mas não deu detalhes e os prometeu para o próximo dia 8 de maio. Em represália, foi alvo de novos julgamentos negativos.

Fizemos, na comunidade de filiados de MONEY REPORT, uma enquete informal sobre o que se pensava da atuação do governador durante a crise. Cerca de um terço daqueles que se manifestaram defenderam-no e destacaram suas qualidades como gestor. Dois terços, no entanto, foram veementes em suas alfinetadas. Essa amostra, contudo, é pequena e não tem valor científico. Mas é suficiente para perceber que a insatisfação ultrapassa as fronteiras do bolsonarismo raiz. Há eleitores de Doria que fazem, hoje, críticas a sua atuação. Algo que a equipe do governador já deve ter percebido.

Diz um ditado antigo: “falem mal, mas falem de mim”. Desde que essa crise começou, o nome do governador passou a ser comentado como nunca foi. E ele se firmou como a principal voz de oposição ao governo federal. Sua estratégia terá fôlego até 2022? Ele conseguirá reverter as críticas de hoje? Muito cedo para responder. Mas o fato é João Doria percebeu uma lição importante. Ficar em cima do muro, como o ex-governador Alckmin fazia, pode render reeleições estaduais em série – mas não tem valor algum para quem almeja voo nacional, com olhos postados no Palácio do Planalto. Assim, para conseguir algum protagonismo em 2022, o governador sabe que precisa cutucar, mesmo que com vara curta, o presidente da República. Não será sendo bonzinho com o presidente que se conseguirá chegar ao segundo turno.

Vai dar certo? Muitos acham que não. Mas Doria é um otimista por natureza e um inquieto por definição. Não consegue ficar parado e ver as peças se movimentando sozinhas no jogo político. Essa inquietação o faz se mexer – embora, na opinião de alguns, isso ocorra sempre antes da hora certa. O ex-presidente Juscelino Kubistchek dizia o seguinte: ““O otimista pode até errar, mas o pessimista já começa errando”. Essa frase resume a essência de João Doria, que traz em si o arrojo das grandes apostas: se tudo der certo, será considerado um gênio. Se, ao contrário, vier o fracasso, haverá uma fila de cassandras para fazer o jogo do “eu sabia” e do “eu te disse”. Essa peleja, entretanto, só termina daqui a três novembros. Até lá, os eleitores paulistanos não vão morrer de tédio.

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Comentários

Respostas de 5

  1. A tese do artigo é que o governador está impondo a quarentena com objetivo de ganhar vitrine para as proximas eleições. Não se importando com o impacto das medidas na vida das pessoas. Como isso pode dar certo?

  2. Este governador mostrou que o gostinho do poder o subiu a cabeça, onde nao importa aliados ou nao, povo precisando de atencao ou nao, ele mostrou que para alcançar o que ele deseja ele pisa e passa por cima de qualquer um, isso é governar? A pessoa quando assume um cargo deve acima de tudo o exercer de forma a atender seus deveres e obrigacoes com o povo e nao ser apenas visto como um degrau até Brasília, se ele nao quer governar que entregue o boné e caia fora pois o povo precisa de direcionamento e nao ser usado como palanque, ele teve a maior oportunidade de se mostrar como uma luz na escuridão dando direcionamento ao povo, questionando todos os órgãos de maneira clara sobre a pandemia para esclarecer o povo de maneira imparcial, unir os governadores e a presidencia para passar por isso e no entanto o governador do maior estado do pais dividiu, ameaçou o governo e o povo, tirou os direitos do povo ao trabalho e sustento, quebrou enpresas e destruiu a harmonia de familias e pessoas, vimos nascer e crescer um ditador mimado e sem respeito ao povo, acredito que teve toda a oportunidade de mostrar qualidades e competência mas vimos a mascara cair e que nao passa de mais um oportunista buscando ganhos proprios, espero de verdade que ele tenha cometido sim suicidio politico e nunca mais consiga nada no governo, precisamos independente de partidos ou nomes de pessoas que governem pelo Povo e nao por fazer bonito em nome do Brasil pros outros verem.

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