A presença da presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), na posse de Nicolás Maduro na Venezuela deve prejudicar ainda mais a imagem do partido. A avaliação é do cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB). Em entrevista a MONEY REPORT, Fleischer disse que, ao endossar o novo mandato de Maduro, o PT passa a imagem de “apoio a um governo antidemocrático”. A tendência, segundo o cientista político, é que a sigla fique mais isolada no Congresso e perca força nas próximas eleições municipais de 2020.
Ao justificar a ida à posse de Nicolás Maduro, na Venezuela, Gleisi Hoffman disse que ele foi eleito pelo voto popular. Mas o PT boicotou a posse de Jair Bolsonaro no Brasil. O discurso da presidente da legenda soa contraditório?
Sim. O PT usa um discurso de conveniência, de acordo com sua ideologia. Isso dificulta a recuperação da imagem e mostra que o partido está alienado diante do que o eleitor brasileiro pensa. O problema do PT é que a ideologia toma frente do pragmatismo eleitoral. Essa é uma decisão simbólica e certamente ficará marcada.
Que imagem o PT passa aos eleitores ao estar presente na posse de Maduro?
De endossar uma ditadura, de apoiar um governo antidemocrático. Isso não é aceito pela grande maioria do eleitorado.
O ato dá mais munição para o discurso ideológico de Jair Bolsonaro?
Com certeza. Caiu de graça no colo do presidente. Até parece que o partido que deveria fazer oposição não quer ocupar esse espaço. Está batendo cabeça entre si.
O bloco de esquerda formado por PDT, PSB e PCdoB tende a isolar o PT?
A tendência é essa, já que o PT não está alinhado com o que esse grupo pensa.
Nesse novo ciclo político, o partido deve perder o protagonismo histórico de liderar a esquerda no país?
Caminha para isso. Manter o apoio a Maduro deve prejudicar ainda mais o PT, principalmente projetando o cenário para as eleições de 2020. O partido corre risco de perder ainda mais prefeituras.