O Progressistas se tornou o destino preferencial de alguns caciques da base governista para as próximas eleições, o que pode complicar a divisão da verba partidária – mas valeria o risco e o esforço. A maior figura interessada é o próprio Jair Bolsonaro. Hoje sem partido, ele foi do PP por 11 anos (2006-2014) e pensa em voltar para ganhar apoio de uma legenda forte que, por sua vez, pode encorpar sua bancada na tentativa de reeleição do presidente. Abaixo do mandatário também há gente da cúpula do governo disposta a mudar de ares: Tereza Cristina (Democratas), Fábio Faria (PSD), Tarcísio Freitas (sem partido) e Rogério Marinho (PSDB), que juntos comandam ministérios que somam orçamentos de R$ 84,4 bilhões em 2021.
Esse grupo chegaria cacifado, mas podem ocorrer choques com os líderes já entronizados. O presidente da legenda, Ciro Nogueira (PI) (imagem), recém-nomeado à Casa Civil, deve concorrer ao governo piauiense contra o atual mandatário Wellington Dias (PT). Bolsonarista fiel, o senador Luis Carlos Heinze (RS) já manifestou interesse em uma candidatura ao governo gaúcho. Mesmo sendo a agremiação com o quarto maior montante de recursos do fundo Partidário – atrás de PT, PSL e MDB -, o PP teria que direcionar seus esforços financeiros para a reeleição de Bolsonaro. Sem contar que a filiação do presidente deve incluir a cessão do controle do partido – algo que nem o pequeno PRTB do finado Levy Fidelix aceitou.
É um jogo de perde e ganha onde a política pode ter tanta força quanto a calculadora. Em 2020, o PP ficou com aproximadamente 7% (R$ 140,6 milhões) dos R$ 2 bilhões do Fundão, de acordo com o tamanho de sua bancada. Se Bolsonaro vetar o fundo de R$ 5,7 bilhões, aprovando um montante de R$ 4 bilhões, o caixa do PP mais que dobraria por razões paralelas. É que está em curso uma operação para filiar dezenas de deputados à sigla a partir de abril de 2022. O objetivo é fazer do PP a maior bancada da Câmara para abocanhar a maior fatia do Fundão, influenciando mais a Casa e o governo na reta final do mandato. É uma meta ambiciosa, mas factível se o Bolsonaro controlar parcialmente seus ímpetos.
Para o PP, seria um retorno em grande estilo ao protagonismo político. Derivado do PPB, a legenda compôs base parlamentar para FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Parcialmente herdeiro da antiga Arena, partido de sustentação da ditadura militar, o Progressistas faz parte de um bloco à direita que viu seu prestígio minguar nos cargos majoritários desde a redemocratização. O último grande momento foi na forma de PDS, em 1985, com Paulo Maluf derrotado por Tancredo Neves no colégio eleitoral. Depois vieram as candidaturas de Maluf (8,85% dos votos), pelo PDS, em 1989, e de Espiridião Amin (2,75%), pelo PPR, em 1994. Com Bolsonaro, a chance de voltar ao núcleo mais intenso do poder é real – ainda que dificilmente haja Fundão para todo mundo.