Partido terá que ser reconstruído sem vaidades se quiser reconquistar as cadeiras que foram para MDB, PP, PL e Republicanos
Com uma bancada de 22 deputados e 6 senadores, além de três governadores, mais de 510 prefeituras e cerca de 1,4 milhão de filiados, os tucanos deveriam ser uma força mais respeitada e cortejada no cenário eleitoral. Mas o partido perdeu força em demasia por uma confluência de fatores em grande parte provocados por seus integrantes mais poderosos em um período curto de tempo.
Há 20 anos longe do poder presidencial, mas chegando quatro vezes ao segundo turno desde então, contra Lula e Dilma (PT), o partido deixou de se apresentar como sigla relevante com a chegada de Bolsonaro (PSL e PL) à Presidência, puxando votos de eleitores descontentes com a hegemonia de tucanos e petistas. O que deveria ser um percalço virou um problemão sem solução visível.
No acostamento
O partido está estagnado. A campanha presidencial de João Doria não deslancha por sua incapacidade de atingir o eleitorado do resto do Brasil – e também pela ação da máquina de propaganda bolsonarista – e por dentro é corroído por ódios e disputas internas. A maior vítima de Doria, o ex-governador Geraldo Alckmin, abraçou seu antigo arquirrival e deverá mesmo ser o vice de Lula pelo PSB. Desprezado pelo bolsonarismo, o partido entrou em um vácuo, sendo preterido das coligações. Primeiro por opção própria, depois por sr visto como aliado inviável à Presidência. Quando a eleição começar oficialmente, os tucanos até serão incluídos em algumas delas, mas em posição subalterna. Uma chapa ao lado de Simone Tebet (MDB) parece ser algo circunstancial. Ela perde menos que Doria, pois ainda tem mais quatro anos no Senado. Há até a possibilidade do tucanato seguir neutro e isolado no acostamento a terceira via. Mas nos estados, as coisas já acontecem.
Política é ocupação de espaço. No lugar dos tucanos ganharam força na Câmara – e verba eleitoral – PL (79), PP (55), Republicanos (43) e MDB (38), além do PT (56). Nas eleições municipais, o MDB cresceu 75%, com quase 790 prefeituras, seguido de DEM, PP e PSD. Já o PSDB encolheu mais de 40% nas administrações municipais. Na Câmara, desde a posse da atual legislatura, perdeu 7 deputados.
Para sobreviver, líderes estaduais se aliam a Bolsonaro. No Mato Grosso do Sul, o governador Reinaldo Azambuja escolheu ficar ao lado do presidente e do PL para apoiar seu pretenso sucessor, Eduardo Riedel (PSDB), com apoio do PP da ministra da Agricultura Tereza Cristina. Na Paraíba, o deputado federal tucano Pedro Cunha Lima deve seguir o mesmo caminho com a benção de seu pai, o ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima.
Urnas eletrônicas
Em Minas, Aécio Neves tenta fazer valer a força de um partido que conta com uma centena de prefeituras no estado. Como as intenções de voto estão indefinidas entre o governador Romeu Zema (Novo) e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PDT), o cacique mineiro tenta lançar um novo Antonio Anastazia, que foi seu vice e governou o estado entre 2010 e 2014. O escolhido é Marcus Pestana, ex-secretário de Saúde e deputado federal por dois mandatos, entre 2011 e 2019. Só que Aécio anda desgatado pelos escândalos em que se meteu, apesar de ter sido absolvido em um processo de corrupção em março. O tucano mineiro foi o inventor da moda de duvidar das urnas eletrônicas, quando perdeu para Dilma, em 2014.
Em São Paulo, o atual governador Rodrigo Garcia (SPDB) está na mesma posição que Doria, amargando um quarto lugar na corrida ao Palácio dos Bandeirantes, atrás de Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e Tarcísio Freitas (Republicanos). E ninguém parece sequer cogitar seu apoio, em um repeteco da esfera nacional. Esvaziados, os tucanos terão que se reinventar para voltar a ganhar o interesse de outros partidos, de quadros políticos relevantes e, principalmente, dos eleitores.