Enquanto o ex-presidente Lula (PT) (à esquerda) tenta vender um discurso de centro ao empresariado nas eleições de 2022 para se contrapor às crises do governo Bolsonaro, neste início de janeiro o tom populista destoou. Em uma crítica à reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), conjunto de alterações dos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) feitas no governo de Michel Temer (MDB) em 2017, o petista enalteceu em redes social a revogação parcial da reforma espanhola ocorrida em 2012. A mesma que depois inspiraria a brasileira.
Vale explicar que na época, o governo da Espanha pretendia reduzir a burocracia e baratear as contratações, assim como o Brasil posteriormente. Nesse caminho, os salários também foram reduzidos, causando grande descontentamento. Agora, o primeiro-ministro Pedro Sánchez (PSOE) tenta um recuo parcial. Ele e o partido querem reduzir as contratações temporárias e estimular as de prazo indeterminado para dar mais segurança aos trabalhadores. O problema é que a redução da liberdade contratual retornaria ainda durante o período de crise pandêmica. Há ainda a expectativa de um novo aumento nos salários. Atualmente, a taxa de desemprego atingiu 14,5% no país, uma das altas da União Europeia (UE). E não se sabe como uma mudança na lei resolveria o problema.
Se as pesquisas eleitorais de 2021 se consolidarem na volta de Lula ao Palácio do Planalto, novamente o Brasil olhará para a Espanha como modelo, seja nas reformas quantos nos retrocessos. Lá e cá, pouco parece que há agentes políticos interessados em aperfeiçoar o que foi feito, com os devidos avanços e recuos. É preciso lembrar que a reforma de Temer foi uma tentativa de aliviar as empresas durante uma crise econômica que praticamente se mostra contínua e não dá sinais enfraquecimento. Aqui, além de Lula, a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) (à direita) endossou o pré-candidato, como de costume entre os medalhões do partido. “A reforma espanhola serviu de modelo para a brasileira e ambas não criaram empregos, só precarizaram os direitos. Já temos o caminho”, diz tuitou Hoffmann. Tentar melhorar a economia para depois gastar é uma obviedade que ninguém está ligando.