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Quando a autoconfiança abre caminho para o despreparo

Ao ver o debate entre a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o ex-presidente Donald Trump, me veio um flashback esportivo. Lembrei-me de uma partida entre a tenista Billie Jean King e o ex-esportista Bobby Riggs, realizada em 1973 e imortalizada como a “batalha dos sexos”. Riggs, então com 55 anos, havia derrotado recentemente a número um do ranking feminino, Margaret Court, e disse que qualquer atleta aposentado poderia vencer uma mulher na quadra de tênis. Billie Jean, então com 29 anos, resolveu desafiar Riggs, que topou o embate. Mas chegou ao local da partida sem treinar, movido apenas pela autoconfiança. Resultado: perdeu por três sets a zero (6/4, 6/3 e 6/3), em uma partida que contou com plateia de 30.000 pessoas e foi transmitida pela televisão.

Trump repetiu o estilo de Riggs. Enquanto Kamala passou o final de semana inteiro se preparando para o debate, treinando com especialistas, Trump preferiu continuar o corpo-a-corpo com o eleitorado. Com grande experiência em programas de televisão e debates, o ex-presidente achou que não precisava melhorar sua performance – e viu diante de si a sua Billie Jean King.

A impressão geral foi a de que a incisiva Kamala derrotou um apático Trump, que se viu na defensiva a maior parte do tempo. Para piorar, Trump soltou algumas teorias bizarras no meio do programa de TV: disse, por exemplo, que imigrantes ilegais estavam comendo animais de estimação dos habitantes em Springfield, Ohio. A redação da rede ABC ligou para a prefeitura da cidade, que negou existir um só registro sobre esse tipo de violência contra cães e gatos.

Chamou a oponente de “marxista”. E a explicação foi simplória – o pai da candidata havia sido professor de marxismo em uma universidade. Bem, é possível ensinar marxismo e não ser seguidor das ideias de Karl Marx, mas isso nem vem ao caso. A orientação política de um pai não necessariamente é seguida pelos filhos. Kamala retrucou com veemência que defende o capitalismo.

A democrata tem dois calcanhares de Aquiles, que não foram explorados por Trump. O primeiro é o fato de estar na administração Joe Biden e poder ser responsabilizada pelos pontos fracos do atual governo. Em suas considerações finais, Trump até ensaiou algo do gênero. Ele questionou a oponente: se o programa de governo dela era tão bom, por que não o implantou em três anos e meio? Outro ponto que poderia ter sido explorado foi o caminho da economia, um tema que a vice-presidente não domina – mas Trump preferiu o ataque direto em vez de questioná-la.

Até os republicanos reconheceram o mau desempenho de seu candidato.

“Não aprendemos nada novo sobre Kamala Harris esta noite. Os dois apresentadores da ABC não a pressionaram em nenhum ponto para que explicasse em mais detalhes ou para questioná-la sobre porque mudou de posição. Mas esse não é o trabalho deles. Esse é o trabalho de Donald Trump, e ele simplesmente não estava focado. Então, ela se saiu melhor do que ele. Isso não vai fazer muita diferença no grande esquema das coisas. Mas, certamente, podemos dizer que Kamala Harris se destacou sob os holofotes, correspondeu ao momento, parecia e se comportava como uma presidente”, analisou o estrategista republicano Matthew Klink.

Erick Erickson, que comanda um talk-show radiofônico de linha conservadora, foi pragmático. “Trump perdeu o debate e reclamar dos moderadores não muda isso. Ele não perdeu por causa do comportamento deles. Ele perdeu por causa de sua própria performance enquanto falava”.

Os democratas ficaram tão animados com o debate que passaram a pressionar por mais um duelo – e é aqui que pode estar uma grande chance para os republicanos. Agora, o modus operandi de Kamala é conhecido e Trump pode se preparar melhor para debater com a adversária. A dúvida é: o republicano reconhece que foi mal e estaria disposto a reformular a sua estratégia? A julgar pelas declarações dele, não.

P. S.: voltando a Billie Jean King. A música “Philadelphia Freedom”, de Elton John, foi feita em sua homenagem (o time de tenistas criado por ela se chamava Philadelphia Freedoms). Elton John queria gravar uma melodia que casasse o estilo sonoro de Filadélfia (por isso, contratou o maestro Gene Page para fazer o arranjo) com uma letra que refletisse o estilo de vida da amiga, que conhecia desde 1973. Ah, o cantor lançou essa música em 1975 sob o nome de “Elton John Band” e dividiu os ganhos com seus parceiros (Nigel Olsson, bateria; Davey Jonhstone, guitarra; Dee Murray, baixo; Ray Cooper, percussão).

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