Da ala à direita do Partido Conservador, ela promete reformas, fim da estagnação e apoio à Ucrânia, mas acumula críticas
A nova primeira-ministra britânica, Liz Truss, que será empossada amanhã, terça-feira (6), após ser apresentada à rainha, segue seu antecessor, Boris Johnson (2019-2022), como representante da linha dura do Partido Conservador. Defensora do Brexit, a futura premiê prometeu na campanha acelerar reformas, como cortes de impostos em £ 30 bilhões ao ano, e acabar com as regulações remanescentes da União Européia (UE) no Reino Unido. Suas medidas seriam capazes de reverter o cenário de baixo crescimento econômico. Pretensa herdeira de Margaret Thatcher (1979-90), ela defende as tradições nos costumes. Entre ela e Thatcher, houve a primeira-ministra Theresa May, todas conservadoras. No cenário internacional, garante que se manterá firme contra o presidente russo, Vladimir Putin, apoiando a resistência ucraniana frente a invasão russa – na diplomacia e no apoio militar. Essa postura é vista com receios pelos agora nem tão parceiros europeus, pois Truss dificultaria o estabelecimento de negociações com a Rússia, principalmente com a participação da China, da qual também é crítica por causa das repressões em Hong Kong.
O resultado das eleições internas do partido foi anunciado oficialmente nesta segunda-feira (5). A eleição foi provocada por Boris Johnson, que em julho declarou que renunciaria ao cargo, abalado por escândalos sucessivos. Primeiro ele ignorou as regras de isolamento social durante o ápice da pandemia, depois deixou de averiguar denúncias de assédio sexual no governo.
Carreira
Aos 46 anos, Truss é parlamentar desde 2010 e, nos últimos anos, foi ministra das Relações Exteriores do governo Johnson, tendo participação ativa nas negociações para executar a saída da UE. Ela tem uma carreira sólida na alta política, atuando também nos gabinetes dos premiês conservadores Theresa May (2016-19) e David Cameron (2010-16), que antecederam Johnson. Também foi ministra da Educação, secretária de Estado do Meio Ambiente, secretária da Justiça, secretária-chefe do Tesouro e secretária de Estado do Comércio Internacional, presidente da Junta Comercial e, antes de ser eleita, era ministra da Mulher e da Igualdade.
Como o Partido Conservador tem maioria no Parlamento, o escolhido internamente para liderar a legenda no lugar de Johnson se torna automaticamente o primeiro-ministro. Truss teve como adversário Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, que a derrotou entre os parlamentares (137 votos contra 113). Porém, Truss obteve 57,4% (81.326 votos) entre os filiados do Partido Conservador.
Conversão e escândalo sexual
Porém, sua vida não é uma estrada reta na defesa dos valores liberais. Filha de trabalhistas, Elizabeth Truss se aprofundou em economia na Universidade de Oxford, onde fez política estudantil. Sua estreia na política se deu ao centro, no partido Liberal-Democrata, em 1994, quando defendeu em discursos a extinção da monarquia e a União Europeia. Em 1997, se junta aos conservadores. Dois anos depois passa a atuar na área contábil da Shell. Seus esforços na política de Norfolk são recompensados em 2007, quando virou vice-diretora remunerada e em tempo integral do think tank de centro-direita Reform. Prestigiada por David Cameron em sua tentativa de renovar os quadros do partido, em 2009 foi alvo de uma campanha de difamação, com a revelação que em 2004 manteve um caso com um colega parlamentar conservador. Sua conversão ao conservadorismo é considerado arrivismo puro entre seus pares.
Em 2010, quando foi eleita pela primeira vez representante pela área rural de Norfolk, contou com o apoio de sua mãe, a enfermeira e ativista antinuclear Priscila, mas seu pai, o professor de matemática John, se recusou a apoiá-la e sequer teria lhe dado seu voto. Em 2017, foi apontada como a responsável pelos vazamentos em série à imprensa das conversas no gabinete da então premiê Theresa May sobre as negociações para o Brexit. Mesmo sem comprovação, acabou rebaixada de posto. A partir daí, se postou ao lado de Johnson e chegou ao topo.
A mensagem da nova primeira-ministra
“Estou honrada em ser eleita líder do Partido Conservador. Obrigado por depositarem sua confiança em mim para liderar nosso grande país. Vou tomar medidas ousadas para nos fazer passar por esses tempos duros, crescer nossa economia e destravar o potencial do Reino Unido.”