Em reunião do Alto-Comando, Exército “decide” que respeitará resultado do pleito e que microapuração vai só monitorar urnas, revela Estadão
O Alto-Comando do Exército Brasileiro afirmou que o candidato que vencer a eleição presidencial será empossado sem qualquer interferência. A força também declarou que não irá se associar ao trabalho paralelo de auditoria de urnas pedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), um capitão reformado por indisciplina.
A decisão foi sacramentada por 16 oficiais-generais em reunião no Forte Apache, o quartel-general do Exército, em Brasília. “Quem ganhar leva”, enfatizaram. A frase é disseminada na tropa desde a primeira semana de agosto. As informações são do Estadão e foram divulgadas nesta sexta-feira (30). Em uma situação eleitoral corriqueira em uma democracia, tal declaração soaria estranha, pois os militares não podem “decidir” contra a lei. Porém, agora serviriam como um freio a qualquer arroubo autoritário.
A reportagem relata que o assunto foi abordado em uma das reuniões do Alto-Comando do Exército (RACE), mas até então era tratada de forma discreta. Oficialmente, esses encontros foram divulgados em notas formais. Foram cinco encontros, entre 1º e 5 de agosto.
“Como de praxe, o comunicado informava apenas que foram discutidos assuntos ‘de interesse da Força. O Estadão apurou que, ao passo que a decisão dos generais se espalhava pelos quartéis do país, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica começaram a evitar exposição política e a dar sinais de distanciamento da inédita auditoria das eleições, que vai checar parcialmente a soma dos votos no domingo e monitorar testes de funcionamento das urnas eletrônicas. A auditoria foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro”, diz trecho da reportagem.
Na prática, a posição institucional pode reduzir o impacto da prometida auditoria das urnas. Ao jornal, fontes militares afirmaram que a microapuração irá se restringir a reportar o trabalho de fiscalização nas suas duas últimas fases: os testes de integridade e a checagem amostral da somatório por meio de boletins de votação.
Relatório a Bolsonaro
“Uma ressalva que costuma ser feita pelos oficiais envolvidos é que um sistema informatizado nunca está 100% blindado e precisa sempre de aprimoramento. Bolsonaro explora essa informação politicamente, dizendo que o risco de fraude é ‘quase zero, mas não é zero’”, diz outro trecho da reportagem.
Ainda segundo o Estadão, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que assinará sozinho o relatório, informará ao presidente Jair Bolsonaro e aos militares da reserva envolvidos na campanha de reeleição ou que ocupam cargos no governo. O propósito do documento, segundo militares, é apenas relatar. Fazem parte desse grupo os generais de quatro estrelas reformados Walter Souza Braga Netto (vice na chapa de Bolsonaro), Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional, GSI) e Luiz Eduardo Ramos (secretário-geral da Presidência).