Dois dos mais ativos e respeitados senadores da República, Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Katia Abreu (PP-TO), demonstram grandes descontentamentos com os rumos do governo Bolsonaro e pedem mudanças urgentes de curso, diante do risco de mais mortes e perdas econômicas. Jereissati questiona a postura do presidente diante da pandemia, algo que considera irresponsável e belicoso, enquanto Abreu pede uma mudança na condução da política externa, que adotou uma linha de confronto com o novo governo do Estados Unidos e contra a China, as principais potências econômicas e os maiores compradores de produtos brasileiros.
Tasso Jereissati cobra de seu colega, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a conduta do Planalto e do Ministério da Saúde diante da calamidade. “Este será o grande teste do Rodrigo. Se ele realmente é independente como está dizendo ou se para ganhar [a presidência do Senado] se comprometeu até a alma com Bolsonaro”, afirmou o tucano ao jornal o Estado de S.Paulo, nesta segunda-feira (1°).
A insatisfação de Jereissati não está só pautada na conduta geral do presidente, mas na recente visita ao Ceará, seu estado, em meio ao colapso da saúde pública. Bolsonaro discursou em aglomerações e atacou governadores de outros estados. “Há um esforço enorme para conscientizar a população e o cara vem e conclama o contrário”, criticou o senador. Ele deixou claro durante a entrevista que há uma articulação na Casa pela abertura da CPI. “O intuito não é punitivista, mas para pararmos essa insanidade”, afirmou. “Um impeachment vai criar uma crise sem tamanho. Outra coisa, ele tem seguidores, as coisas piorariam. Temos que conscientizar o presidente através de seus puxa-sacos”, finalizou.
Ligada ao agronegócio e ministra da Agricultura no governo Dilma Rousseff, Katia Abreu (PP-TO) considera que o atual governo se meteu onde não deveria. Ela é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado e, em entrevista à BBC Brasil, explicou que o apoio aberto do governo ao Donald Trump feriu o interesse nacional em prol da ideologia, abalando as relações com os Estados Unidos a partir da vitória do democrata Joe Biden.
Além disso, os ataques do chanceler Ernesto Araújo à China criaram ruídos em momento que o Brasil precisa adquirir vacinas e insumos produzidos por aquele país, que também é o principal comprador de nossas commodities agrícolas. “Para você ferir o interesse nacional, tem que estar com o foco muito certo de que vai perder agora para ter um ganho muito claro ali na frente. Mas não tivemos tempo de ver esse resultado”, analisou a senadora.