Em encontro no Planalto, presidente sugeriu gravar Alexandre de Moraes para anular as eleições. Marcos do Val terá que provar tudo. Quem mais sabia?
Em conversas com a GloboNews e a revista Veja, o senador Marcos do Val, do Podemos-ES (imagem) revelou a tentativa de Jair Bolsonaro (PL) de cancelar o resultado das eleições presidenciais. Se o parlamentar apresentar provas consistentes da sua denúncia, será a comprovação que, ao final do mandato, um presidente eleito democraticamente tentou dar um golpe de estado contra seu sucessor também eleito de modo limpo.
O plano era algo primário. Do Val gravaria uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em busca de algo comprometedor que pudesse gerar uma justificativa para colocar em dúvida o resultado das eleições, insuflando os militares. A partir dessa “denúncia”, Bolsonaro desencadearia uma série de decretos, mandando prender Moraes e barrando a posse de Lula (PT). O arremate seria o apoio das Forças Armadas – algo que precisa ser esclarecido. A instalação do caos institucional teria sido discutida no Palácio do Planalto, em 9 de dezembro, em uma reunião entre o senador, o então presidente Jair Bolsonaro e o deputado condenado Daniel Silveira, preso nesta manhã (2).
Há um detalhe. A proposta foi apresentada por Silveira na presença de Bolsonaro, que indicaria concordar com a ideia, mas não se manifestou – seu silêncio já indicaria prevaricação. Ao G1, Do Val declarou: “Eles me disseram: ‘Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte, E você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa pra dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso'”.
A reunião foi cercada de sigilo e trocas de códigos entre Silveira e Do Val. Após um encontro em estacionamento nas proximidades do palácio, ambos foram levados ao Planalto em um carro da segurança presidencial, entrando sem passar pela portaria. Conforme a Veja, na segunda-feira (12/12) do Val mandou mensagem para o presidente do TSE: “Precisava falar como foi o encontro com o PR [presidente da República] e o DS [Daniel Silveira]”.
Não foi a primeira conversa por aplicativo entre ambos. Do Val já havia alertado Moraes que algo estranho estava em andamento envolvendo Daniel Silveira. Na segunda mensagem já falava de “uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”.
Quem mais sabia?
A conversa nada republicana teria durado 40 minutos, com Silveira afirmando que Do Val seria um “herói nacional” e “salvaria o Brasil” ao buscar provas contra Moraes e as eleições – fosse quais fossem. A missão do senador contaria com o ajuda do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que forneceria o equipamento de escuta a ser ocultado no corpo do senador. O senador foi escolhido por ser amigo de Alexandre de Moraes há mais de uma década.
A partir do encontro, Do Val assumiu uma postura política] com Bolsonaro e Silveira, enrolando ambos enquanto contava tudo a Alexandre de Moraes, que de início soltou um “Não acredito”. Na noite de 14 de dezembro, o senador respondeu a Silveira: “Irmão, vou declinar da missão”. Silveira devolveu: “Entendo, obrigado”.
Há pontos delicados a serem esclarecidos. Se gente do GSI sabia, quem das Forças Armadas, da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estaria envolvido? Militares e policiais graduados não dão um passo sem aval de seus comandantes imediatos. Esse pessoal eventualmente teria ligação com os encarregados da segurança pública do Distrito Federal, quando do ataque aos 3 Poderes? Qual a ligação dessa reunião com a preparação da minuta do golpe? Quem são os outros dois envolvidos que não estavam na reunião? Outros parlamentares foram procurados? A primeira reação foi a prisão de Silveira, que terá seus passos rastreados, assim como a conferência das câmeras do palácio – se não foram destruídas na invasão de 8 de janeiro.
Diante do teor de tudo o que admitiu, o senador eleito em 2018 afirmou, nesta quinta-feira (2), que pedirá afastamento (abaixo). Está aberta a temporada de delações de alto escalão.
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