Uma resposta atravessada do ministro Luís Roberto Barroso a um manifestante em Nova York repercutiu no Brasil do Oiapoque ao Chuí. “Perdeu, ‘mané’. Não amola”, disparou Barroso ao ser abordado (talvez pela décima-oitava vez) em uma rua nova-iorquina. O ministro, ao expressar a sua irritação, chamou a pessoa de “mané”, o equivalente a “otário”. Os dois lados do espectro político debateram a fala do juiz, uns aplaudindo e outros criticando. Mas, ao olharmos de perto algumas atitudes desse período pós-eleição, podemos chegar à conclusão de que somos todos “manés”, a começar por quem usa a agressividade verbal para se manifestar ao abordar autoridades.
Vários vídeos circularam nos últimos dias, com pessoas xingando os ministros do Supremo com palavras de baixo calão. Talvez esses manifestantes tenham ido para casa com a alma lavada. Mas qual é o efeito prático desses xingamentos? Zero, a julgar pela feição irônica que o ministro Alexandre de Moraes e seus colegas dirigiam aos manifestantes.
Mas o ministro Barroso, ao dizer que o sujeito que o importunava havia perdido, entra em uma situação de risco, pois sua declaração pode ser interpretada como um apoio ao lado vencedor – ou seja, Luiz Inácio Lula da Silva. Para piorar, ele foi fotografado ao dividir uma mesa com o advogado de Lula, Cristiano Zanin. Talvez, nesse caso, possa ter dado uma de “mané”.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal, ao embarcar em um trem da alegria para o exterior também podem ser taxados de “manés”. Pelo menos dois colunistas de grandes jornais, José Roberto Guzzo e Conrado Hübner, fizeram um comentário devastador: se o STF pagou as despesas dos ministros, será ruim para a reputação do Judiciário; se foi a organização do evento, no entanto, será ainda pior.
Outro que pode ter entrado na categoria dos “manés” é o presidente eleito, que se deslocou para o Egito a bordo de um jatinho pertencente a um empresário amigo. Seria mais que óbvio que haveria críticas ao uso de uma aeronave particular, de um delator da Lava-Jato. Mas Lula preferiu passar por um desgaste absolutamente desnecessário antes de assumir o poder. Seus apoiadores retrucam as alfinetadas: ponderam que, em um voo de carreira, Lula estaria à mercê de bolsonaristas que poderiam tornar a jornada um verdadeiro inferno (o que, diga-se, poderia mesmo acontecer). Qual a saída? Fazer as contas, ver quanto custou a carona e reembolsar o dono do avião pelo uso de um assento. Pode não ser uma solução ideal, mas pelo menos conseguiria amainar as críticas.
O oponente de Lula, Jair Bolsonaro, é outro que pode ser criticado por ter sumido de circulação. Nos momentos de tensão que precedem a posse de Lula, o desaparecimento de Bolsonaro apenas fomenta as fake news golpistas que se autoalimentam nas redes sociais.
E o discurso ambíguo dos militares? Pode também ser um sintoma de “manezice”. Enquanto Lula não tomar posse, haverá tensão no ar e os passos das Forças Armadas serão acompanhados de perto. Adotar uma abordagem dúbia pode agradar o Ministério da Defesa, mas deixará a sociedade sobressaltada.
É justamente essa ambiguidade que turbina as manifestações daqueles que querem um golpe militar. Trata-se de um grupo que, em defesa da liberdade de expressão e da, bem, democracia, quer um regime de exceção para o nosso país.
Por fim, temos aqueles que menosprezam a direita e acreditam que esse grupo é formado apenas por brucutus desmiolados. Evidentemente, há os extremistas batendo ponto na frente dos quarteis. Mas, por outro lado, há também pessoas que simplesmente estão inconformadas com a vitória petistas e utilizam essas manifestações para exprimir o que estão sentindo. Desprezar a força política desse grupo é arriscado, pois esses eleitores podem exercer um papel importantíssimo em 2026.