O fim do mundo prometia bater à porta do STF na sessão desta quarta-feira (21). Pressionada por seus colegas a rediscutir as prisões após a segunda instância, a presidente da corte, a ministra Cármen Lúcia, estava fadada a passar por um constrangimento inédito. O ministro Marco Aurélio Mello preparava uma questão de ordem para forçar a presidente a colocar o assunto na pauta. Tema que poderia beneficiar o ex-presidente Lula, que vive a expectativa de ser preso após ser condenado pelo TRF-4.
Para o cientista político Leonardo Barreto, analista da Factual, o cenário que se desenhava colocava Cármen Lúcia em uma encruzilhada. “Ao resistir em pautar o assunto, ela fez uma jogada de colocar a faca no pescoço de quem queria discutir. Se ela fosse vencida no plenário, não existiria outro caminho que não fosse a renúncia”.
Numa jogada para esfriar os ânimos, ao abrir os trabalhos, a presidente da Corte decidiu colocar na pauta da sessão de quinta-feira (22) o julgamento do habeas corpus preventivo pedido pela defesa de Lula. “A Cármen Lúcia, como um vetor desse processo, mostrava que estava preocupada em como iria entrar para a história. Como uma pessoa que não cedeu às pressões ou como uma pessoa fraca que foi derrotada. Ao pautar o caso Lula, ela mostrou que cedeu às pressões”, disse Barreto.
As seguidas trocas de farpas públicas entre os ministros, na visão do cientista político, mostram o tamanho da divisão que existe na corte. “O STF está funcionando no limite da ruptura institucional e vai sair muito machucado desse episódio”, completou.