Ao engordar a pré-campanha de Tarcísio, Datena exigiria mais de Haddad e França, acomodados em uma disputa estagnada de início
Há um mantra que deveria encimar todo o comentário político na forma de um logotipo, lema ou ex libris. “Publicae spatium” indicaria que o exercício da política se dá pela ocupação aglutinação de forças nem sempre convergentes. É o que nos indica a participação da candidatura ao Senado do apresentador José Luís Datena (PSC) na chapa do pré-candidato ao governo de São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos). O acerto foi anunciado após uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (PL) na casa do ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf. A decisão e os personagens envolviddos surpreenderam absolutamente ninguém. O que interessa são os desdobramentos.
Datena se aproximou de Bolsonaro por meio de entrevistas exclusivas e amistosas em seu programa. Em outros momentos, criticou o presidente, mas tudo dentro de certa polidez e sem contundências críticas. Já Skaf se aproximou do presidente desde o início do mandato, até abrindo sua residência para um encontro do vice, Mourão com empresários.
Nessa conversa, quem sai ganhando de início é Tarcísio. O candidato do presidente ao Palácio dos Bandeirantes precisa mesmo turbinar sua campanha. Atrás de Fernando Haddad (PT) e de Márcio França (PSB), o republicano somava 12,6% das intenções de voto estimuladas em 4 de abril, de acordo com o Instituto Paraná Pesquisa, caindo para 10% em 12 de maio, segundo o Genial/Quaest. Em termos estatísticos, está estagnado. A mesma situação do petista ex-prefeito de São Paulo Haddad, na liderança com 30%, seguido pelo ex-vice-governador paulista França, com os 17% do mês anterior.
A TV promete
Todos precisam crescer e há tempo para tanto. Haddad mantém o índice histórico de preferência do eleitorado à esquerda e pode esbarrar no antipetismo ou ser impulsionado pelo antibolsonarismo, enquanto França parece congregar uma terceira via contra quem não concorda com nada que está aí. O adversário de Tarcísio é mesmo França. Ainda que parte do eleitorado deste possa migrar para Haddad.
Há outros poréns em jogo. O primeiro é o perfil metralhadora giratória do apresentador, que desagrada o bolsonarismo raiz. Para o pleito, tudo deve se acalmar. Quem precisaria lugar nesse arranjo é Skaf, que há mais de década mantém aspirações políticas não contempladas pelas urnas. O certo é que a composição bolsonarista tornará a campanha mais aguerrida. E há também capacidade de transferência de votos de Datena, um novato em campanha sem perfil partidário e comunicador experimentado, mas que nunca foi confrontado por raposas políticas diante das câmeras. Não deverá ser tão difícil. De todos os jeitos, os debates televisivos para governo e Senado prometem.
E para quem achou tudo ruim e fisiológico, resgatamos uma imagem de 2013 ainda mais chocante que só mostra que, independente dos pudores dos eleitores, política tem dessas coisas.
