O homem nunca foi à Lua e as imagens que vimos na televisão foram criadas em um estúdio, dirigidas pelo cineasta Stanley Kubrick, o mesmo de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. O grupo secreto “Illuminati” foi responsável por vários acontecimentos da história, incluindo a Revolução Francesa, e controla as finanças mundiais. As linhas paralelas deixadas no céu por aviões são na verdade um plano para envenenar toda a população mundial (ou controlar as mentes de todos os seres humanos, dependendo da versão).
Todos já ouviram essas teses malucas, cujo fundamento científico é zero, e são antepassados analógicos das fake news. Ultimamente, no entanto, houve um crescimento expressivo de teorias conspiratórias, todas criadas a partir do tema do momento: a pandemia provocada pelo coronavírus.
Duas, no entanto, se destacaram nos últimos dias. Uma foi disseminada por um deputado federal que apontou discrepâncias entre os números de óbitos entre um determinado período de março deste ano e os mesmos dias de 2019. Este político argumenta o seguinte: entre os dias 1 de março e 3 de maio deste ano, segundo o post, tivemos 166.657 óbitos no Brasil e a fonte seria o Portal da Transparência. No mesmo período do ano passado, esse número seria de 188.640 falecimentos. Em tese, durante a pandemia teria havido uma queda no número de mortes, o que denotaria uma tremenda farsa por parte das autoridades. É nessa hora que os mais novos diriam: hashtag sóquenão.
Segundo levantamento de MONEY REPORT, conduzido por um de nossos editores, apenas no período destacado pelo autor da maquinação, tivemos 175 020 óbitos e não 166 657. Mesmo o número relativo a 2019 está errado: houve 172 711 vítimas fatais. Foram 15 929 mortes a menos que o divulgado na fake news. Ou seja, neste ano, tivemos um aumento de 2 309 falecimentos, de acordo com os registros nos cartórios, nos períodos analisados. Os dados oficiais gerais estão apontando cerca de 11 000 mortos em função do coronavírus. O que os números do Portal da Transparência nos mostram, assim, é que pode ter havido um considerável número de subnotificações.
O segundo exemplo de teoria da conspiração que chega às redes sociais e ganha a credulidade de pessoas bem formadas e inteligentes é um vídeo sobre a médica Judy Mikovits. Neste pseudodocumentário de 25 minutos, Mikovits vocifera contra as vacinas, diz que a pandemia é falsa e o coronavírus foi manipulado em laboratório.
É um festival de maluquices tão grande que nem vale a pena rebater. Sobre o tema, a revista Science, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo, fez uma análise criteriosa e demolidora dos argumentos da médica. Esse artigo pode ser acessado aqui (https://www.sciencemag.org/news/2020/05/fact-checking-judy-mikovits-controversial-virologist-attacking-anthony-fauci-viral ). Infelizmente, outras loucuras do gênero virão. Não só durante o auge da pandemia, quando os sentimentos estarão à flor da pele, mas também após o pior ter passado.
Há dois tipos de lunáticos que defendem essa farta distribuição de sandices, que sempre têm silogismos misturados a argumentos falsos para construir uma narrativa que seduza o público .
Um é o doido raiz, aquele que genuinamente acredita em elucubrações sem pé nem cabeça. São mentes fantasiosas que precisam sair da realidade que as aflige. A teoria da conspiração, assim, funciona para esse tipo de gente como uma válvula de escape, algo que traz conforto para seus pensamentos perturbados. Aparentemente, são indivíduos inofensivos. Mas servem a propósitos malignos. A disseminação do conceito de que vacinas podem matar (defendido no vídeo da médica Mikovits. Num determinado momento, ela fala sobre os laboratórios farmacêuticos: “Eles matarão milhões, como já fizeram com suas vacinas”) fez uma epidemia como a do sarampo voltar ao Brasil. Foram em 2019 cerca de 14 000 casos, com quinze mortes. Quinze vidas ceifadas por absoluta ignorância. Trata-se de uma vacina disponível gratuitamente em todos os postos de saúde no país. Os pais que decidiram não vacinar suas crianças e acreditaram nessa mentira disseminada pelo mundo digital terão de conviver com o seu gesto pelo resto de suas vidas.
Há, no entanto, outro tipo de autores que disseminam essas teses da conspiração. São aqueles que desejam apenas o caos, como se fossem terroristas cibernéticos. Esses deveriam estar na cadeia, sem dó nem piedade. Eles espalham o pânico e a desinformação, manipulando dados para defender um ponto de vista dúbio e difundir a dúvida nas mentes dos cidadãos.
As teorias divertidas (os deuses da antiguidade eram, na verdade, alienígenas vindos do céu ou há uma base nazista no subsolo da Antártida) se perdem nesse torvelinho de más intenções e mistificação. Cabe a cada um de nós combater essa praga. Há um grande aliado para isso: o Google. Nove entre dez mentiras são desmascaradas com uma simples busca nessa ferramenta. É só perder quinze segundos antes de passar para frente algo que parecia fazer sentido, mas atiçou uma certa dúvida. Nessas horas, é melhor esperar. E não colaborar para tornar um ambiente estressado ainda mais intranquilo.