Ex-ministro da Justiça está preso desde 14 de janeiro sob suspeita de omissão na tentativa de golpe. Governador do DF afirma o contrário
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres depôs nesta quinta-feira (16) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre os indícios que o governo anterior tentou um golpe de estado. Ele classificou a minuta golpista encontrada em sua casa pela Polícia Federal (PF) como “texto folclórico”, “loucura” e “lixo”. Os detalhes da oitiva foram divulgados pelo jornal O Globo.
Torres prestou depoimento por videoconferência durante cerca de uma hora e meia. Ele está preso desde 14 de janeiro, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), sob suspeita de omissão nos atos golpistas do 8 de Janeiro. Todavia, ele não explicou onde estaria a “loucura” da qual parece ter participado, por qual razão guardaria “lixo” e nem deu exemplos de outros textos de teor “folclórico” parecidos em posse de ministros da Justiça durante as fases democráticas da república brasileira.
As declarações diferem do que afirmou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que voltou ao cargo nesta quarta-feira (15), após ficar afastado por 65 dias também por suspeitas de envolvimento na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Anderson Torres era então o secretário de Segurança do DF e agiria sob suas ordens. “Independentemente de não ter a assinatura de ninguém, o documento revela que, em algum momento, alguém pensou em dar um golpe no Brasil. Revela que havia na cabeça de alguém a intenção de dar um golpe [de Estado]”, declarou Ibaneis em sua primeira coletiva de imprensa depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes o autorizou a reassumir o cargo.
O depoimento de Torres foi coordenado pelo corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves, e ocorreu no âmbito da ação que apura uma reunião do então presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores em julho de 2022.
O TSE quer obter detalhes sobre a minuta do golpe encontrada na residência de Torres. A avaliação é de que o documento teria relação com as alegações infundadas de Bolsonaro sobre o sistema eleitoral durante o encontro com embaixadores.
No início de março, ao defender a manutenção da prisão de Torres, a Procuradoria-Geral da República (PGR) contestou as afirmações do ex-ministro sobre a minuta. Embora o bolsonarista tenha argumentado que o documento era “descartável” e sem “viabilidade jurídica”, a PGR destacou que “não se trata de documento que seria jogado fora, estando, ao revés, muito bem guardado em uma pasta do governo federal e junto a outros itens de especial singularidade, como fotos de família e imagem religiosa”.
Aberto a pedido do PDT, em agosto do ano passado, esta é a ação mais avançada na Justiça e pode tornar o ex-presidente inelegível pelas práticas de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
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