Em encontro com embaixadores estrangeiros, Bolsonaro repetiu argumentos já desmentidos
As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em apresentação a embaixadores estrangeiros levou a corte eleitoral a divulgar uma lista rebatendo vinte alegações feitas pelo presidente. Os conteúdos produzidos pela Secretaria de Comunicação e Multimídia do TSE desmontam a narrativa do chefe do Executivo.
No encontro com diplomatas, que ocorreu no Palácio da Alvorada e contou com a estrutura do governo para divulgação, o chefe do Executivo federal repetiu argumentos já desmentidos por órgãos oficiais e reiterou que as eleições deste ano devem ser “limpas” e “transparentes”.
Logo após o fim do evento, o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, disse que muitos “buscam, sem muito disfarce, diluir a própria República e a constitucionalidade”.
Leia os pontos levantados por Bolsonaro e as respostas do TSE:
- Declaração: Só 2 países do mundo usam sistema eletrônico semelhante ao brasileiro.
Resposta: Além do Brasil, Butão e Bangladesh utilizam urnas eletrônicas. No último país, há registro físico do voto. Na França, há o uso do equipamento em cerca de 60 localidades. Nos EUA, há a utilização da urna em 6 Estados.
- Declaração: Hacker teve acesso a dados do TSE.
Resposta: Ataque realizado em 2018 não violou a segurança das urnas, colocou em risco sistema de votação ou desviou votos de uma urna para a outra.
- Declaração: Hacker poderia excluir nomes de candidatos.
Resposta: Urna não pode ser manipulada via internet.
- Declaração: Logs da urna foram apagados.
Resposta: Ataque não “representou qualquer risco à integridade das eleições” e “nada de anormal ocorreu”.
- Declaração: PSDB disse que sistema eleitoral é inauditável.
Resposta: Partido fez auditoria em 2014 e não encontrou indícios de fraude.
- Declaração: TSE não imprime voto, mesmo com recomendação da Polícia Federal.
Resposta: Introdução do registro impresso do voto representa riscos ao processo eleitoral, especialmente relacionados a fraudes, custódia e contagem de votos, quebra de sigilo do voto, judicialização dos resultados eleitorais e dificuldades operacionais e logísticas.
- Declaração: Observadores internacionais não conseguirão analisar a integridade do sistema, pois não há voto impresso.
Resposta: “Organismos internacionais especializados em observação, como OEA e IFES, já iniciaram análise técnica sobre a urna eletrônica. Contarão com peritos em informática, com acesso ao código-fonte e todos os elementos necessários para avaliarem a transparência e integridade do sistema eletrônico de votação.”
- Declaração: Ministro Edson Fachin tornou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inelegível.
Resposta: “O ministro Luiz Edson Fachin ficou vencido no tema da execução da pena após a condenação em segunda instância e na competência da justiça eleitoral para julgar as ações oriundas de grandes esquemas de corrupção. Vencido, no entanto, não se furtou em aplicar a posição consolidada pelo Plenário. Sobre o tema do habeas corpus do ex-presidente, na semana anterior a que o ministro Fachin proferiu a decisão, foi aplicado o mesmo entendimento para deslocar a competência de uma investigação relacionada à Transpetro”;
- Declaração: Ministro Roberto Barroso indevidamente acusou Bolsonaro de vazar inquérito sigiloso, quando ele não era sigiloso.
Resposta: “Corregedoria da PF disse que o inquérito era sigiloso pelo fato de ainda estar aberto”;
- Declaração: Empresa terceirizada é responsável pela contagem dos votos.
Resposta: “O sistema de totalização é feito no TSE e é apresentado às entidades fiscalizadoras com um ano de antecedência bem como é lacrado em cerimônia pública”.
- Declaração: Fachin diz que auditoria não serve para questionar resultados.
Resposta: “Frase retirada de contexto”;
- Declaração: Fachin foi advogado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Resposta: Fachin nunca advogou para o movimento;
- Declaração: TSE disse em 2018 que resultado das eleições daquele ano podem ter sido alterados.
Resposta: TSE nunca emitiu tal informação;
- Declaração: TSE não aceitou recomendações das Forças Armadas.
Resposta: Mais de 70% das propostas feitas à Comissão de Transparência Eleitoral pelos seus integrantes foram aceitas ou já estavam em curso, o que inclui propostas das Forças Armadas.
- Declaração: Voto impresso é inconstitucional.
Resposta: Voto impresso é menos seguro que o eletrônico e não garante a segurança das eleições.
- Declaração: Bolsonaro questiona computador que faz totalização;
Resposta: Computador físico que faz a totalização é seguro.
- Declaração: Urna completaria votos sozinha.
Resposta: Vídeo que circula com a informação é falso.
- Declaração: Votação não é transparente.
Resposta: Boletins de urna podem ser acessados no site do TSE [os partidos acompanham localmente os resultados e se baseiam em suas próprias pesquisas].
- Declaração: Não há confiabilidade.
Resposta: Auditoria disse que não há riscos relevantes às eleições de 2022.
- Declaração: Polícia Federal disse que TSE é um “queijo suíço”, como uma espécie de “peneira”.
Resposta: “A Justiça Eleitoral não tem conhecimento de tal afirmação feita pela Polícia Federal”.
O que MONEY REPORT publicou
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- Fachin recusa convite de Bolsonaro para reunião com embaixadores
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